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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Café dos encontros

Imagem: Michele Molinari (http://www.flickr.com/photos/globevisions/)
Ornella possuía um pequeno livro de capa vermelha sobre seu próprio futuro. A obra fora escrita pela avó Dormélia, que além de prever toda a própria vida, antevira a da filha e a da neta.

A moça não se interessava pelo que aconteceria à mãe e à avó, apenas lia e relia a passagem que revelava que seu prometido a encontraria numa tarde qualquer no Café da Vila. Prometido por quem? Pela avó? Fosse por quem fosse, ela contribuía para o milagre rezando a previsão.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O hambúrguer e o paraíso



- Você sabe o que é um contrato verbal? E sabe quando tem que manter a sua palavra?
- ...
- Acabei de me comprometer. É, a me casar com o John! Nós dois começamos a falar sobre encontrar a pessoa certa, se ela existe e tal. E daí eu quase pedi uma nova chance, sabe? É eu sei, você vai me perguntar se eu nunca me canso disso. Não sei o que me deu e propus que a gente casasse.
- ...
- Não! Não agora. Só se a gente não encontrasse até ninguém até 2013, daí nos casamos.
- ....
- Faltam só dois anos e eu já deveria estar escolhendo a igreja, começando a pagar o buffet, vendo todos os vestidos da cidade, do país...
- ....
- Mas agora dei pra pensar naquele indiano, sabe?
- ...
- Como que indiano?! Aquele que vinha sempre, mas só provou um hambúrguer pela primeira vez semana passada! Lembra,  na sexta eu disse a ele que ninguém poderia vir a América, ir à uma lanchonete e não comer um hambúrguer? Daí ele disse que meu sorriso era como o paraíso, então eu valia o sacrifício. Acho que o nome dele era Gamal.
- ...
- E agora eu meio que comprometi com o John, mas o Gamal me deu o telefone dele. Dois anos é muito tempo, o John nunca vai saber. Vou ligar agora. Beijo, amiga!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

End's tonight

O ano passado bateu todos os recordes de casamento. Pelo menos na minha tabela: seis casais de amigos resolveram dizer o “sim”. Desconfiei, devia ser um sinal do fim dos tempos. A moça chamava o rapaz e disparava: “não vou pro juízo final solteira, meu amor!”. Fiquei sem entender, afinal os maias marcaram o evento, com bastante antecedência, para 21 de dezembro de 2012.  Deu vontade de alertar os noivos e noivas vítimas de possível chantagem emocional: ainda restava uma janela de quase um ano a se aproveitar. Mas aí descobri que o fechamento do planeta foi antecipado pra amanhã. Isso mesmo, sábado, 21 de maio.

O anúncio foi feito por um movimento cristão norte-americano. Concordo com o leitor que lembrar que eles fazem esse anúncio quase todo o ano, mas, convenhamos, uma hora eles podem acertar e vai que é amanhã? A tal “Family Radio Worldwide” está empenhada em espalhar a notícia por todo mundo.

A expectativa da associação é que, neste sábado, os escolhidos ascendam aos céus e os renegados pela benção divina fiquem por aqui curtindo um período de tormento, até o fim dos tempos. O fim do mundo ter sido antecipado é bem típico de Deus, querendo prender todos os jornalistas na redação.

O mundo acaba, mas a imprensa segue: não vai ter jornal encalhado nas bancas. Todos, com depoimentos de mil especialistas, dirão como nos preparar para esse momento único da humanidade. Os portais de internet estarão à toda com a cobertura em tempo real, enquanto as rádios dirão as rotas menos congestionadas para tocar a mão direita de Deus.

Pena que eu só soube hoje do fim do mundo. À noite já tenho compromisso: bar com os amigos. Gastarei, então, minha última noite na balada. Mas se tempo eu ainda tivesse, iria apelar à pessoa amada: “Vamos ficar só essa noite e depois vemos no que vai dar”.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma noiva para Gamal



A solteirice incomoda muito. Aos outros, principalmente. E estes, por sua vez, nos cutucam até tomarmos alguma atitude. Jamais aceitarão que a pessoa se acostume com este singular estado civil. Gamal foi vítima dessas boas intenções.
 – Não, não pode! Onde já se viu homem bonito, trabalhador e de boa família sem mulher? – Quem dava voz ao consciente coletivo era o cunhado de Gamal, que alimentava uma barriga de homem bem-casado.
Com isso, mãe e irmãs se sentiam no direito de cobrar também. Não queriam um homem encalhado em casa. Nenhuma boa família da Índia permitiria isso. Se ficava sozinho, era porque tinha voltado ocidentalizado. Em língua corrente: viado. 
– Já que você fica tanto tempo na internet, por que não procura lá uma mulher? Em um site de relacionamento? No Facebook? Vi uma pesquisa na tv que dizia que são 48% maiores as chances de se encontrar alguém assim do que pessoalmente.
 Mal não podia haver. E era melhor do que deixar o pai, até ali de fora da polêmica, procurar entre as boas famílias da Índia uma mulher para ele. 
 Boas mulheres sim, mas não pra ele Gamal, que veio sim um pouco ocidentalizado da América, onde fez faculdade. Mas não como temiam. Voltou querendo mulher loira, de peitão, original ou de silicone, não fazia preconceito.
 Almoçava no escritório para poder ficar nas salas de bate-papo e nas redes sociais. Chegou até bloquear algumas candidatas mais afoitas. Sexo nos primeiros toques? Americanizada sim, mas sem perder a pureza. E não só de coração. 
 Demorou, mas encontrou. O Facebook tinha sido uma ótima ideia, iria agradecer ao cunhado. Temente à Shiva, loira e com peitão. A família estranhou um pouco os cabelos tingidos. A moça era de poucas palavras e nenhuma família, todos mortos em um acidente no Ganges. Anusha pagou o próprio dote. E a sogra achou um lucro ela saber fazer o tchai.  
 Na primeira noite de casados, não consumaram a união devido ao cansaço após tanta celebração. Depois ela disse estar menstruada, depois foi enxaqueca, depois passou a seduzi-lo com jantares sempre regados à bebida farta. Gamal logo cochilava e só iria fazer nova tentativa na noite seguinte, quando era novamente traído pelo desejo de comer.
Quando a barriga de homem bem-casado apareceu, tornou-se o orgulho da família. Ninguém iria imaginar que passava fome de mulher. 
– Exija seus direitos de marido, Gamal! – Ouviu de um amigo quando um dia desabafou. 
Tentou, insistiu, mas Anusha escorregava sempre. Ou ele adormecia, ou vinha visita, ou ela estava naqueles dias, ou qualquer outra coisa. Ao cabo do terceiro mês, não a tinha visto toda nua. Só umas partes: o pé na sandália de tiras, o tornozelo quando a barra da saia levantava centímetro e meio ao subir a escada, os braços e o colo no decote. Era uma loucura para Gamal, que viveu tanto tempo sem dar por falta de mulher.
O amigo confidente contou para o cunhado de Gamal, que consultou o sacerdote e este fez saber a outros homens e todos concordaram que aquilo não estava direito.
Eles exigiram de Anusha uma explicação. Ela se fez de ofendida, não quis falar com ninguém e se trancou no quarto. Pressionaram. Gritavam que iriam arrancá-la de lá e obrigá-la a servir o marido de qualquer jeito. 
Arrombaram a porta, mas Anusha conseguiu sair pela janela. Deitou a correr pelo bairro e toda gente atrás. Gamal, perdido no meio do povo, ia junto. Perdida ela também, acabou por encurralar a si própria em um beco. Até mulheres já faziam parte da turba agora. Uns batiam, outros tentavam arrancar-lhe as roupas. Mal se ouvia seus gritos sufocados de protesto. O marido temia pela esposa e já se acusava e se arrependia por aquilo tudo. 
 Quase nua, estava visível qual era o problema da mulher: o volume na calcinha, o gogó se destacando, uns pelos muito grossos por todo o corpo. Era homem a Anusha. Não fosse a polícia chegar, ele viraria mulher na marra, de tanta pancada. Gamal é que não sabia mais o que era, onde estava. Fechou no mesmo dia o perfil do Facebook e fez as malas. Iria se jogar na América, garantiu. Queria agora de todo jeito a sua loira com peitão, dela ou de silicone, não fazia preconceito desde que fosse mulher, isso sim, original de fábrica.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Confissão

A terapeuta diz que minha implicância é ciúme, mas tenho o tempo a meu favor: sempre detestei meninas mimimi. Menina mimimi é aquela que é toda risadinha, que é uma delicadeza só, que criança não jogava bola pra não mostrar a calcinha, fica vermelha se ouve palavrão e é incapaz de pensar por si mesma. É uma fraude. E como faz sucesso.



Chega até a me dar urticária. A última crise foi tamanha que até me submeti a um teste, desses de revista, para aferir o meu grau de feminilidade. A pontuação ia de zero a 300. Aqueles com perfil masculino deveriam marcar até 150. De 180 em diante, estavam as legítimas filhas de Eva. Soma daqui, revisa dali, meu resultado foi 155.

Veja que cento e cinqüenta e cinco não é código pra traveco. E se fosse, não creio que eu causasse maiores fenômenos.  Diz o tal do teste que a zona cinzenta entre 151 e 179 indica quem tem a mente equilibrada entre os dois tipos de raciocínio, feminino e masculino. Ainda sob os efeitos da pressão mimimi, quase aceitei um tratamento de choque: pintaria meu quarto de rosa, iria trabalhar sempre de saia e saltinho, cortaria franjinha e passaria a ler Sidney Sheldon.

A menção a Sheldon foi absolutamente técnica, como minha mente racional e quase absolutamente masculina exige. Lembro de ter visto na internet uma pesquisa que dizia que mulheres que lêem romances românticos batem de longe as que preferem outros tipos de leitura no quesito relacionamentos – a rivalidade, afinal, também consiste nisso.

Eu tentei. Fui lá na livraria e peguei um título qualquer com uma mocinha em um vestido de época na capa. A reação do meu organismo foi violenta: quase o deixei cair no chão. As páginas transbordavam – acho que só uma desintoxicação poderosa pra me livrar da má influência – de coisas como “crepúsculo”, “lágrimas que rolavam pelo rosto”, e “ela sorriu lentamente”.

Combater o mimimi é de família. Ainda criança, minha avó, pessoa da maior seriedade, interrompia a leitura do evangelho para me lembrar que “muito riso, pouco siso”. Não preciso tomar juízo graças a ela e, talvez por isso, sinto falta de autenticidade na mimimi. Tem uma frase do poeta Vladimir Maiakovski perfeita: “Amar não é aceitar tudo; aliás, onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor”. Gente que não peida e que não tem opinião, desculpa, mas, não tem vez comigo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pensa, que pensa


Era de tanto pensar que Maria perdia o amor. Pensou primeiro que não queria amar ninguém. Pensou depois que ele era velho demais. Só que um beijo, tudo bem. O beijo poderia ser melhor, não pode deixar de observar. Depois percebeu que ele guardou a carícia melhor mais pro final. Na noite seguinte pensou que vê-lo de novo seria o máximo.

Mas pensou de novo que ele era muito velho. E que vestia umas calças jeans de vaqueiro que só por Deus. E que ele era diplomata. Antes achava que diplomata era um carro, seu pai tinha tido um. Não sabia que tinha gente diplomata. Explicava o terno bege, como o carro. Quem usa terno bege? Diplomatas.

Isso foi na semana passada, já devia estar pensando em outra coisa. Vai ver era uma louca obcecada. Ela mesma reconhecia que sempre demorava pra esquecer. Primeiro foi André: quatro meses e dez dias juntos, para 18 meses de reflexões antes da próxima rodada, com 311 turnos. Parou de pensar porque cansou.

No Mauro não pensou muito. Mas no Rogério pensou bastante. Em se livrar, depois em deixar rolar, namorar. Muito, muito mesmo, pensou quando romperam. Até gritar. Ou melhor, ele gritar. Pensamentos são energia, energia emite raios, raios queimam a gente. Queimadura dói e a gente grita. Pensaram mais devagar, por precaução. Voltaram. Até que pensou muito, em casar. Quis parar de pensar na mesma hora. Mas não parou. Só não pensava junto.

Pensou em uma ou outra pessoa naquele tempo. Mente vazia é o laboratório do diabo, haviam lhe dito. Era o contrário. Pensar demais.

Na cabeça de Maria não fazia silêncio. E não tinha pai, mãe, nem ninguém da polícia ou da prefeitura pra apelar. Pensava que não sabia inglês e que ele sabia também espanhol, alemão e chinês. Não tinha carro, também nem ele que vivia com chofer. Ele, estrangeiro, ela, sem passaporte. Seria madrasta de dois meninos dez e doze anos mais velhos que ela, com sotaque e malcriados.

Só daria certo se ela não pensasse tanto. Se a boca dele fizesse nela um imenso clarão. Desses que emudecem tudo ao redor. Em português, ela explicou à Bia: “Sabe, eles podiam chegar, me dar aquele arrocha e dizer ‘Cala a boca e me beija’. Não pode ser tão difícil”.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A gaveta cheia


Tem coisas que a gente tenta evitar a vida inteira e encontra soluções temporárias, mas chega um momento em que a decisão se impõe. Era hora de Alberto morrer, Cristiane percebeu.

Porque ele era homem. Muito homem. Daqueles que mulher não resiste. E não só ela, esposa: todas. Começava com um sorrisinho, uns tapinhas nos ombros, um convite para uma cervejinha e lá estavam elas abrindo os dentes e as pernas. 

Sua política era, primeiro, avisar. Claro, uma ou outra temia a Deus e tomava de novo o rumo do culto de fundo de quintal quando o nome do santo pastor era invocado, mas a maioria não. A maioria delas não estava nem aí pra nada que não fosse o Alberto. 

A mais antiga na lembrança era uma prima, Fabíola, que se ofereceu para cuidar do bebê enquanto Cristiane ia pro supletivo à noite. Num dia de aula vaga, ou prova – não se lembra bem – saiu mais cedo e acabou notando os dois de risadas e bitoquinhas no sofá. Comentou com ela, como quem fala do tempo, sobre o caso da finada Patrícia, que havia sido cortada com cacos de vidro pelo marido até a morte porque andava de fricote com o Feliciano da feira.

Sutileza não é o forte de biscate. Mas isso, Cristiane percebeu à noite quando viu que os dois tinham se permitido logo explorar cômodos mais íntimos, confiantes de que aula vaga  todo dia não acontecia em supletivo.

Entrou pelos fundos na casa do pai e foi ao quarto de ferramentas, pegou uma foice de cortar cana e escondeu numa rua escura, por onde Fabíola teria que passar. Chegou em casa e tocou a campainha, disse que tinha perdido a chave. O marido apareceu, meio afobado, justificou a demora em abrir o portão por estar no banheiro enquanto a outra trocava as fraldas do bebê.

O corpo foi encontrado semanais depois, por abutres e cachorros, no meio de uma horta abandonada.

Já tinham sido tantas que quase perdia as contas. De cada desaforada guardava uma lembrancinha: um brinco, um colar...  Até usava alguns, mas Alberto não notava. A gaveta da cômoda, que tinha lascas soltas por todo lado, já estava cheia, logo não caberia nem mais um pingente.  É, ele tinha que morrer, não tinha outro jeito – Cristiane sabia.

A dúvida era como: veneno, facão, encomenda... Tinha experiência em tudo quanto era jeito. Certeza apenas é de que iria transmitir tudo ao vivo, pela internet.

Cansou de sutileza.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conselho de amigo


Apenas para o meu bem fui proibida de ouvir minha canção preferida. A recomendação do amigo, cheio de boas intenções, era que assim deixaria de me lembrar do meu ex amor. Contrariada, obedeci – já havia passado do ponto de recusar ajuda. Imediatamente, a voz sabotadora de Luíza Possi começou a tocar em minha cabeça em um "repeat" infinito.

Se entendesse de medicina poderia cogitar que fosse meu organismo rejeitando aquela ideia estranha. Lembrei-me de uma tia que no período adolescência acreditava que todas as músicas de Roberto Carlos haviam sido compostas para ela.

Minha mente travou naquela música. Não que eu tenha algo contra. O meu humor reage imediatamente bem aqueles versos (“Você me faz bem/ quando chega perto/ com esse seu sorriso aberto...) . 

Mas ele tinha razão. Há músicas que nos prendem. Ou que deixam um gosto na boca. De vodca, de beijo na testa, de sal de lágrima. 

Foi numa dessas que enterrei minha melhor dose de Joss Stone. 

Antes que eu tivesse uma recaída, tratei de instalar um antivírus. Toquinho. Sheryl Crow. Daniela Mercury. Green Day. Mombojó. Apocalyptica... E Diana Krall.

Loira, canadense, quarentona, cantora de jazz. Poderosa. Veio ao Brasil há pouco tempo... Guardem esse conselho pra vender depois: Diana Krall.

Os acordes de piano de “Just the way you are” são apenas meus. Sensuais, desconfio que já procuram alguém para que eu compartilhe a posse.

domingo, 24 de outubro de 2010

Aposta

Depois daquele pé na bunda, só lhe restava ir à lotérica. A vendedora sugeriu um dos bolões da mega-sena. Cotas a R$ 10 e R$ 30. Comprou uma de cada. Olhou na bancada e resolver tentar tudo: lotomania, timemania, dupla sena, federal, loteca... Não tinha cabeça para pensar em tantos números e combinações, deixou que a máquina fizesse a sua sorte.

Ela apenas achava justo que algo desse certo. E, certamente, preferia sua parte em dinheiro. Não precisava ser muito. Qualquer R$ 5 mil já resolvia. Mas Deus poderia ser justo e lhe pagar os juros. Assim, por baixo, devia a soma devia girar entre uns R$ 7 ou R$ 8. Milhões.

O problema é que Deus era um caloteiro. Ele permitia que as pessoas colocassem as dívidas na conta dele, as menores, as maiores e nada de comparecer. Todo poderoso, o SPC e a polícia não o alcançam. Ou não se dão ao trabalho. Talvez Deus seja apenas um viciado na bajulação e quer só curtir.

Não sabia de ninguém a quem Ele tivesse pago o que fosse. Ele devia ser mais como uma máquina caça-níquel, umas luzes coloridas, muita gente tentando a sorte, perdendo seus tostões, e um desavisado ou um viciado que leva uma porcentagem da bolada.

Passou dias sem dar pelo frasco verde de xampu na prateleira do box. De manhã, colocava o primeiro sapato que via, o mesmo que tinha tirado antes de deitar. Nem queria saber o que podia ter naquela sola. Comeu miojo com ovo no jantar por uma semana. Não acreditaria que tinha feito nada daquilo se lhe contassem anos depois.

Nice foi fazer a faxina do apartamento. O acordo é que viesse uma vez ao mês, limpasse os vidros, os azulejos e passasse as camisas do André. Encontrou na mesa, sob pilhas de envelopes, folhetos de comida e revistas, os recibos dos jogos. Prendeu-os com um imã na geladeira para que a patroa os visse assim que entrasse.

À noite, quando chegou, se surpreendeu mais com a honestidade da Nice do que com seu próprio esquecimento dos jogos. No computador, conferiu um por um. Nada. Três pontos em um. Um ponto onde não devia marcar nenhum, ou fazer vinte. É o que dizem: a casa sempre vence.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Noite do elefante


- Qual é, Marcelo, tem que ter despedida! O que tá pegando?
- Beto, o que tá pegando é que eu não vou estar pegando. Vou ter minha despedida na noite de núpcias! Não sei como, mas tenho que impressionar a Ângela, cara.
Durante os oito anos de namoro, Marcelo sempre serviu um arroz com feijão dos mais bem temperadinhos. Como sempre ouviu que as mulheres valorizavam a noite de núpcias, calculou que, no mínimo, deveria servir à francesa na lua de mel.
Beto sugeriu que fossem à banca de jornal. Voltaram com pilhas de revistas femininas. De onde concluíram que as mulheres eram loucas por artigos de sexshops. Vibradores. Gel do beijo, que esquenta, que retarda – esse podia dispensar de cara. Livros de massagem. E roupas sensuais. A vendedora ajudou. No final incluíram uma cueca de elefantinho no pedido.
Despedida garantida, Beto foi direto contar à galera, combinar logo o bar e quais meninas contratar. Marcelo foi pra casa, estudar os livros de massagem e experimentar de novo a tal cueca.
Não iria admitir pra turma, mas não sabia o que Ângela ainda estava fazendo com ele. A mulher era um clone da Penélope Cruz e ele do mais orelhudo dos cassetas.
O discurso do padre emocionou até o Beto, que ainda andava meio tonto da bebedeira da véspera. A festa avançou a madrugada, mas os noivos se recolheram por volta das 3h da manhã.
Ela decidiu se trocar no banheiro da suíte do hotel. Ele pegou seu kit sensual, reviu suas anotações da massagem e se vestiu. Sentou na cama e aguardou. Ângela abriu a porta. Tinha cheiro de pêssego e vestia uma curta camisola branca. Estancou na porta do toilete.
Marcelo ficou assombrado com a mulher. Uma assombração super positiva, que ela percebeu pelo movimento da tromba.  Movimento que também atingiu as orelhas do elefante, tão similares às de Mário. Ângela não conseguia disfarçar seu estranhamento. O olhar dela, de repente, captou os géis e os óleos de massagem no criado mudo. Nem assim se recuperou. Foi lentamente até a cama e beijou-lhe a testa:
- Nossa, estou cansada! Vamos deixar isso para amanhã. Boa noite, amor. 

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O caso da bola e do lustre




- Bola!
- É lustre.
- É bola.
- É lustre.
- Bola!
- Lustre.
- Bola!
A discussão entre a criança e a mulher já durava uns dez minutos nesse “é”, “não é”, quando eu, que tentava dormir no quarto ao lado, decidi intervir.  
- É bola, não vê que é bola, mãe?
Lucas sorriu quando me viu em sua defesa. Minha mãe alegou que só queria ver até onde ele iria com aquela discussão. Como onde? Até sempre. Em seus um ano e oito meses nunca o vi renegar uma ideia.
O lustre do quarto de dona Patrícia, minha mãe e avó do Lucas, é uma peça redonda de vidro trabalhado. Tem pequenos gomos, como uma bola de futebol estilizada. A luz é de um tom amarelo-avermelhado. Lucas, dono de bolas de tênis, de capotão, daquelas vendidas no posto de gasolina e sei lá mais quantas, sabia definitivamente o que era uma bola.
- É uma bola que brilha, Lucas, expliquei.
Ganhei o coração do garoto.
- Que brilha?
- Isso, uma bola que brilha.
Ele ainda ficou experimentando a palavra nova - “brilha” – por alguns minutos. Depois, satisfeito, foi brincar de olhar-se no espelho.
Desde que aprendeu a falar, Lucas tornou-se o meu guru. Cada descoberta sua me provoca. O lustre é uma bola que brilha. Como alguns sentimentos, de uma essência tão familiar, e revestidos de algo que seduz e cujo nome nos escapa. É uma bola, de fato, mas uma bola que brilha.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

No forno


O ciúme estava muito líquido, como a massa do bolo. Desconfiou que devesse pôr mais farinha, mas era a primeira vez que fazia aquela receita. Teria que recalibrar tudo: ovos, açúcar, suco de laranja. Se mudar agora, como vai saber como deveria ser o bolo? Fofo é que não deve ser. “Deixa, vou pôr no forno mesmo assim”.



Ele foi esquentando, esquentando, até sair como vapor. Pelos poros. Depois pelos olhos. Tanta pressão a inspirou a cozinhar, ainda que fosse naquela cozinha alheia. Algo suave. Doce. E que ninguém tivesse feito antes.

Era de casa, mas mal sabia onde ficavam as coisas. Sentia falta da própria cozinha, com sua lógica orgânica. Sorvete no freezer, creme de leite na despensa e o caderno de receitas na segunda gaveta da pia.

Isso estava superado. O importante agora era que o bolo finalmente ficasse dourado. Nada mais quieto que um bolo no forno. Adivinha-o borbulhando sob a fina crosta. Ninguém cozinharia para Marcos impunemente. Um dia era uma torta, no seguinte oferecia um bombocado... Decidiu que não haveria para a outra o dia do bem-casado.

Meia hora havia se passado e o bolo continuava branco. Sem cheiro. Voltou ao computador atrás de outra receita. Quem sabe algo mais afrodisíaco. Triste seria jogar toda uma receita fora.

Doce e ácido, o perfume foi se intensificando até penetrar o quarto. Ela ainda esperou mais alguns minutos antes de desligar o forno. Preferiu deixá-lo no calor enquanto preparava a calda. Espremeu o suco de uma laranja e adoçou. Ficaria bem molhadinho. Não havia nascido ainda mulher capaz de roubar um homem pela barriga de uma legítima Teixeira.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dia de estar mais bonita


Segunda-feira, Alessandra desperta como sempre às 5h. Pega da poltrona a roupa já escolhida. A blusinha florida é o anticlímax da produção, cujo ponto forte será a calça que promete levantar o bumbum. Tinha que impressionar, não o chefe, ou os colegas, mas um cliente.

Era um cara que aparecia todos os dias. Pedia pizza portuguesa, coca-cola e um maço de cigarros na saída. Ou um x-tudo e uma sobremesa. A caixinha de Alê era o “obrigado” com sorriso que ele lhe deixava todo dia ao fim do almoço.

No banheiro, os potes de creme aguardavam a chamada. A máscara para cabelos. O esfoliante facial. A maquiagem e o protetor solar. Meia hora depois, a porta abriu-se e libertou a nuvem de vapor. Borrifadas de perfume importado – de terça pra frente um bom nacional daria conta. Por fim, os brincos e a pulseira.

Tudo isso porque era segunda-feira. Fazia dois dias que não o via. Saudade só contida porque tinha prazo. Curto. E por saber que a empresa dele, como aquela padaria, não emendava os feriados. Se sempre caprichava, segunda exigia mais. Sabe lá com quem ele esteve no sábado e domingo.

Ps. Embora eu discorde da explicação, há cientistas que garantem que as pessoas são mais bonitas na segunda. Veja aqui.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dia 2

Ela não queria ficar e o esperar. As pessoas já tinham ido. Na verdade queria sim, queria muito. Esperou tanto tempo e quando ele chegou, o sorriso iluminando o rosto, ainda com a camiseta molhada da chuva, já começou a lhe apressar. Era tanta felicidade, que mal cabia e ela só queria ir, já ter ido. Porque não sabia o que falar, queria colocar as sensações no lugar, o coração dentro do peito, ou da bolsa, do sapato, de qualquer lugar que não caísse sem ela notar.

Abobalhada, tentava responder o que ele lhe perguntava. (Onde estavam suas coisas?) Queria ir para onde pudesse gritar que já não sabia mais o que fazer de si. Que o quer. Apenas isso: quer muito. E não aceita não como resposta. Nem “tem, mas acabou”. Fez reserva até.

Acredite. Abra a agenda dela. Está ali o dia do único encontro. E o do desencontro. E o do atropelo. E aquele em que soube. Teriam sido marcados?

Conclui que é hora de rasgar tanta coisa que já foi. Que não diz mais nada de ninguém aqui. A ninguém.

Ele já está ali no carro lhe apressando de novo. Falando do resultado do jogo. E para não esquecer do guarda-chuva da Clarinha. Não, não esqueceu, está tudo aqui. Menos ela. Que está não sabe bem onde. De súbito, seu pensamento clareou: “Talvez em você”.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Amor à bola

Parem a copa. Eu já sei o que é escanteio. Gritei, ao mesmo tempo que os cronistas, que o segundo gol da Inglaterra contra Alemanha entrou bem uns 40 centímetros. Picareta! O goleiro fingiu que defendeu e repôs a bola em campo. Santa mãe do bandeirinha. Pois eu vi! Domingo, 11h da manhã. Eu que não entendia de futebol. Até você não ter outro assunto.

Também já sei o que é tiro de meta. Quem é o Özil. E o Higuaín. E que o Kaká está com o capeta. Pronto. Agora é minha vez, né?

Minha vez. Estou com a mão esticada há um tempão. Quero conversar contigo. Até de futebol. Ou você acha que aguentei tanto Galvão Bueno por esporte?

Mas aconteceu de novo. Eu já devia saber. É a sua jogada ensaiada. Primeiro foram os Beatles, que eu sempre achei que existiram para empatar o talento do John Lennon. Depois o curau de milho verde. E agora o futebol. Se confesso que é por você, lá no fundo tem algo sussurrando que não, que não é mais só você, que também sou eu. Um “nós” tremulando no ar.

Meus irmãos não me reconhecem. Minha mãe cantarola junto o “You say Yes, I say No” tocando no computador.  E eu torço, em silêncio, pela Alemanha. E pela volta da Libertadores.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Premeditação

Ela levou horas para escolher o visual certo para hoje à noite. Checou a maquiagem no espelho do hall. Voltou à cozinha, abriu o armário e tomou duas pílulas azuis com coca-cola. Retocou o batom, arrumou o cabelo e estava pronta para sair.

Sérgio com certeza iria. Ela havia decidido que daquela noite não passaria. Conseguiria conversar algo conexo. Por isso as duas pílulas azuis. Não era viagra. Se fossem postas lado a lado, seriam tão diferentes quanto um óvulo e um espermatozóide. A dela era enorme, a deles pequenina. Eram pílulas de passion fruit, cujo nome destilado de ironia é maracujina.

O coração batia rápido só de pensar no encontro. Quase estourava o peito. As pernas tremiam à iminência dos passos porta afora. Ela já estava ligada demais. Tinha medo de falhar. De novo. Porém, havia riscos. Sabia que se errasse na dose poderia dormir em plena mesa do bar e acordar com os olhos borrados de vergonha e rímel.

Por um segundo pensou que seria divertido trocar as pílulas azuis do irmão pelas dela, desatento que era, ele nem notaria. Mas não podia brincar assim. Simplesmente porque não tinha moral nenhuma.

Estava novamente à porta quando decidiu voltar. Abriu o bolso invisível da bolsa e lá muquiou a cartela de comprimidos, junto com o RG e uma folha de cheque. Foi então que abriu um sorriso, inesperado até para si própria, e pegou um pacote de preservativos com sabor de morango. Calma, sim, morta não.

sábado, 12 de junho de 2010

Movimento pelo ludismo no amor



Chega de e-mails e torpedos. Qualquer meio de comunicação surgido após a invenção do fogo deve ser sumariamente descartado na área afetiva. O que inclui das cartas de amor aos sinais de fumaça, definitivamente.

Cartas de amor, aliás, deveriam ser sumariamente controladas. Só deveriam ser escritas à mão. E à tinta. Branquinho nem pensar (o horror, o horror!), nisso é preciso dar razão à dona Maricota, lá da sua 5ª série.

Não é porque as cartas de amor sejam em si ridículas, nem os e-mails, ou os torpedos. O excesso de tecnologia é que não tem facilitado em nada esse aspecto da nossa vida.

Imagine você sendo Balzac. Com todo seu talento escreve à condessa X. A carta leva onze dias para chegar, isso pra não mencionar o tempo de escrita a bico de pena. Você, Balzac, engenheiro do amor, represou o sentimento para que ele não virasse uma enxurrada de palavras desconexas que afogasse sua amada. Conseguiu gerar energia suficiente para aquecer um coração a onze dias de distância por correio montado.

O problema é que o mundo está cheio de mestres de obras do amor. Gente que não tem condição. Daí constroem-se, à velocidade de torpedos, puxadinhos sob os morros, que tremem ao menor vento e não resistem às chuvas de verão.

Pedreiro amigo, admire a cachoeira. Leve sua amada para apreciar a natureza. Lá, diante das cataratas, fale tudo. Gagueje. Dê voltas, se preciso. Atire as máquinas longe, para sempre. Dê flores silvestres. Use as mãos! Castelos inteiros podem ser erguidos com ferramentas vocais e olho no olho.  E não haverá problemas de delay na resposta ou risco de a baleia encalhar no twitter porque tudo será, de fato, em tempo real.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um Fila

O que leva alguém a dar dois laços no tênis e continuar com cadarço suficiente para pisar em cima? Pior é que os dois laços estão quase se desamarrando. Pior ainda é sair com um cara que passado dos trinta ainda não aprendeu a amarrar os cadarços. Pior é achar tudo isso super fofo, como eu.

Esse tênis é cinza escuro com detalhes cinza claro. A cor foi um rasgo de originalidade: ele tem um par preto e outro branco. No sábado, a pizza é de frango com catupiry e no domingo é daquelas congeladas, de mussarela, comida no café e no almoço em frente a algum jogo na tv.

No dia seguinte, ele acorda atrasado e ainda com as meias de dormir, com um rasgo grande no calcanhar do pé direito, calça os tênis empoeirados que passaram o final de semana jogados sob o sofá. Pacientemente ele dá um laço, depois outro para reforçar e ambos terminam assim meio despencados. Engole o Nescau, sai correndo mastigando o pão com manteiga para não perder a lotação. Mas antes, ele me lança um beijo de despedida da porta.

Podem dizer o que quiser, que ele nunca vai crescer, que nunca vai ter emprego que sustente uma família, que isso não é jeito de tratar uma mulher. Mas aquele beijo, solto no ar, seguido por aquele sorriso que ilumina seu rosto sempre sério, é toda benção que preciso nessa vida.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Gola rolê, futebol e sabão de coco


Duas mulheres discutiam, no ônibus cheio, seus fetiches. Em alto e bom som proclamavam suas preferências quanto ao tipo de vestuário ideal para o sexo oposto. A primeira era de opinião de que todos deveriam usar calça de cantor sertanejo, assim agarradinha, para valorizar o derrière. Já a outra defendia que sexy mesmo era malha de tricô com gola rolê, sem nada por baixo. E esse “sem nada por baixo” era dito assim de um jeito que dava o que querer em quem ouvia. Gola rolê, quem pensaria nisso?

“Os ombros ficam mais definidos, o peitoral parece mais amplo... E dá um ar chique, né?”, continuou a segunda. “Ah, mas uma calça assim igual a do Daniel, nem sei...” – replicou a outra. Lá no fundo, uma senhora comentou a meia voz, com aquela que ia ao seu lado, que bons mesmo eram os shorts da seleção de 82. A se ouvir a voz do povo, a Vip deveria revolucionar seu editorial de moda com as tendências outono e inverno: calças sertanejas e malhas, pensa, algo assim meio Julio Iglesias no rodeio.

Os fetiches são mesmo coisa personalíssima. Um amigo, professor de literatura, sente arrepios com palavras. Raridades como acepipe, conjuminar, lupanar... Melhor parar antes que a censura me tolha o verbo. Tolher. Melhor não provocar.

Há quem tenha fetiche por um tipo específico. Caso curioso foi o do Marco Aurélio, que tinha fetiche por empregada doméstica. Começou quando ele, mal entrado na adolescência, notou a Ritinha, que já era praticamente de casa. Não se sabe até hoje quem começou, só que depois da Ritinha veio a Maria, e depois desta a Nice, e foram tantas que pode-se dizer que estava valendo qualquer uma com cheirinho de sabão de coco.

A coisa ficaria restrita aos quartinhos e mini áreas de serviço, até que já entrado na faculdade, Marco Aurélio passou a seduzir as faxineiras da república que dividia com os amigos. Verdade que eram umas senhorinhas que nem se lembravam direito o que era mesmo o pecado. Na época ele saía com uma morena que fazia Letras, moça romântica, que resolveu aparecer de surpresa, bem no dia da faxina, para uma namoradinha antes da aula. Escândalo armado e lágrimas vertidas, agora ele pensa que bom mesmo seria despachar a morena e ficar de vez, às terças e sextas, só com a dona Cleusa.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Será que vai chover?

Jennifer saiu para dançar na noite e encontrou Nuno. Eles ficaram acordados juntos até o DJ recolher seus discos e meses depois ele ainda não a procurou. Um amor platônico dali nasceu. 
Passado tanto tempo e calejada de tanto Lulu Santos nos ouvidos (“Eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia...”), ela decidiu libertar-se das expectativas e escolher que lugar ocuparia no mundo. Afinal, quem não tem dinheiro para terapia recebe a vendedora da Avon e encomenda batom e “Por que os homens amam as mulheres poderosas?”. 

Ela leu, grifou algumas passagens, tomou notas e decidiu. Mandou um recado por uma amiga, que poderia vê-lo ainda aquele dia. 

- Diga que perguntei por ele e gostaria de vê-lo de novo.

- Qualquer dia?

- Pode ser domingo.

“Jennifer? Que Jennifer?”, devia ser alguma amiga da Mari com quem ele tivesse saído algum dia. Quem quer que fosse, não foi importante. Ele poderia lhe dizer que seu sobrinho nasceu, depois seus pais vieram visitar o bebê e ficaram na casa dele e daí depois... Mas já tinha conversado com a testemunha de Jeová que o abordou no ônibus. Então confessou:

- Olha, Mari, a Jennifer, de novo, só num dia de chuva.
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