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sexta-feira, 20 de maio de 2011

End's tonight

O ano passado bateu todos os recordes de casamento. Pelo menos na minha tabela: seis casais de amigos resolveram dizer o “sim”. Desconfiei, devia ser um sinal do fim dos tempos. A moça chamava o rapaz e disparava: “não vou pro juízo final solteira, meu amor!”. Fiquei sem entender, afinal os maias marcaram o evento, com bastante antecedência, para 21 de dezembro de 2012.  Deu vontade de alertar os noivos e noivas vítimas de possível chantagem emocional: ainda restava uma janela de quase um ano a se aproveitar. Mas aí descobri que o fechamento do planeta foi antecipado pra amanhã. Isso mesmo, sábado, 21 de maio.

O anúncio foi feito por um movimento cristão norte-americano. Concordo com o leitor que lembrar que eles fazem esse anúncio quase todo o ano, mas, convenhamos, uma hora eles podem acertar e vai que é amanhã? A tal “Family Radio Worldwide” está empenhada em espalhar a notícia por todo mundo.

A expectativa da associação é que, neste sábado, os escolhidos ascendam aos céus e os renegados pela benção divina fiquem por aqui curtindo um período de tormento, até o fim dos tempos. O fim do mundo ter sido antecipado é bem típico de Deus, querendo prender todos os jornalistas na redação.

O mundo acaba, mas a imprensa segue: não vai ter jornal encalhado nas bancas. Todos, com depoimentos de mil especialistas, dirão como nos preparar para esse momento único da humanidade. Os portais de internet estarão à toda com a cobertura em tempo real, enquanto as rádios dirão as rotas menos congestionadas para tocar a mão direita de Deus.

Pena que eu só soube hoje do fim do mundo. À noite já tenho compromisso: bar com os amigos. Gastarei, então, minha última noite na balada. Mas se tempo eu ainda tivesse, iria apelar à pessoa amada: “Vamos ficar só essa noite e depois vemos no que vai dar”.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A primeira confissão


Que pecado contaria ao padre? – Marina se perguntou a tarde inteira e, já noite, ainda não sabia. A primeira comunhão era uma coisa complicada: primeiro tinha sido batizada, depois fez o cursinho e agora a confissão, o último desafio antes de receber a hóstia consagrada. 

A catequista disse para a turma contar a verdade na confissão com o padre Ercílio. Marina sabia que aquilo era um truque. Se dissesse a verdade, o padre daria o mesmo sorriso pequeno que o pai dela fazia antes de dar aqueles castigos realmente grandes e prepararia com capricho a penitência. O medo dela era ter que rezar até dar câimbra. E se ele a mandasse ajoelhar no feijão? 

Nem o padre, nem a catequista e nem a mãe iriam acreditar nela. Dizer que não tinha pecado, onde já se viu? “Todo mundo tem pecado, quem não tem mente e isso é muito grave porque daí são dois pecados: a arrogância e a mentira”, a tia tinha falado no catecismo. 

O livro do curso estava aberto sobre a cama na página dos dez mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas, ok; não usar o nome de Deus em vão, também; guardar domingos e dias de festa, lógico que sim; honrar pai e mãe – ela obedecia porque senão já viu, né?; só levantava falso testemunho em caso de legítima defesa, como agora; cobiçava as coisas? Se não sabia o que era, não podia ser culpada. 

Pegou um banquinho e posicionou do lado da estante. Ainda teve que subir no móvel para conseguir alcançar o dicionário da avó. Cobiçar era querer algo que era dos outros, dizia lá. Mas só sentia isso um pouquinho, não passava do Natal, quando o pai lhe comprava os presentes. Roubar não fazia. O homem do saco leva criança que rouba pra trabalhar pra ele. Ou ia pra Febem, já tinha visto na tevê.  

O último pecado só podia ser coisa de adulto: castidade. Palavra que lembrava castiçal, coisa de vó, sabe? Se era algo parecido com castiçal, então, tinha a ver com vela e com fogo, e o pai a proibiu de mexer com fogo. Podia ter olhado de novo no dicionário, mas eram tantas folhas, as letras pequenininhas e ela estava tão cansada que dormiu antes mesmo de pensar em tudo isso. 

Sonhou que o padre confiscava seu diário. “Olha, Marina! Está tudo aqui! Não tem pecado, ora essa! Vá rezar vinte ave maria e trinta pai nosso, já! E que Deus te perdoe!”, dizia ele enorme para uma Marina encolhida atrás do terceiro banco da igreja. 

A menina acordou certa de que devia entregar ao padre todos os seus segredos. Com certeza foi Deus que lhe falou em sonhos, pelo menos a mãe e a catequista diziam que ele fazia isso toda hora em resposta às orações.  Ela nem orou, mas como estava na maior atribulação achou que Ele, muito sábio, resolveu ajudar mesmo assim. 

A fila da confissão tinha todo mundo de todas as turmas do catecismo. A primeira a entrar foi a Débora, uma ruivinha, que saiu de lá rapidinho e chorando. Vai saber o quê ela tinha feito, pensava Marina. Desconfiou, lá no fundo, que ela também achava que não tinha pecado nenhum. Quando chegou a sua vez, sentou na cadeira à frente do padre – lá na igreja do Jardim Atalaia não tinha dessas coisas chiques de casinha pra confessar, era olho no olho, mesmo para as crianças – e falou, sem nem respirar: 

- Padre, tá tudo aqui. O senhor lê rapidinho, por favor, e não conta nada pra minha mãe. 

Marina deu ao padre Ercílio a chave para abrir o diário lilás. Ele ficou olhando pra aquilo algum tempo, depois abriu, deu umas folhadas. A menina pensou que ele não conseguiria entender sua letra apertada. 

- Padre, a minha letra é feia mesmo, mas eu prometo não faltar mais na aula de caligrafia. Se quiser, eu leio pro senhor. 

O padre agradeceu, mas continuou lendo em silêncio por mais alguns minutos. Depois fez uma cara que ela nunca viu nele e mandou Marina rezar três pai nosso e duas ave maria. Foi a menor penitência da turma.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Senhora do destino


Esta semana matei um senador da República. Começar o ano exercitando o próprio poder dá uma sensação boa. Nem que seja o poder da palavra. Pois estava no bar, domingo à noite, a comentar que não havia tido nenhuma morte de figura importante na passagem do ano. E mal falei, o Zeca Camargo interrompeu seu discurso fantástico para comunicar a passagem de Eliseu Resende, eleito pelo Democratas de Minas Gerais.

Sei que ele foi alguém digno de nota, mas voltemos a falar de mim. Dias antes eu havia me recusado a desejar a morte de alguém justamente por ter medo de funcionar. Temia que fosse me tornar incontrolável, possuída pelo dom maligno. Começaria a enumerar quem deveria ser suprimido. Penso que haja alguns outros parlamentares que mereçam prioridade.

Vejo que o aluguel de um talento desses não pode ser desconsiderado sem uma cuidadosa análise comercial. Poderia atender assassinos profissionais, amantes dispensados, invejosos. Colocaria um cartaz em um poste na esquina da Ipiranga com a São João e outro na Ibirapuera com a Jurupis. E usaria um celular pré-pago para evitar qualquer imbróglio com as autoridades.

Também nesse aspecto seria um serviço com qualidade internacional para quebrar qualquer investigação científica: nada de rasto, digitais, testemunhas. Apenas deveria tomar cuidado para não ser vítima de eventuais despachos ou sessões de descarrego, não se deve esperar que a concorrência se perca sem protestos.

E não tem um efeito colateral. Um prócere da República se foi por minha culpa e eu dormi o sono dos pedreiros. Sonho sobre sonho numa narrativa ilógica. Construção de tanta solidez que bloqueou o som do despertador e me fez perder o trem.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E é finito


Fazer aniversário em dezembro não é para qualquer um. Andei dizendo muito isso e as pessoas não acreditam, mas é verdade. Balanço de final de ano somado à análise inevitável de que se está ficando mais velho e ainda não se está lá, aos quase trinta, requer estrutura reforçada, muito chocolate, sorvete e filme da Reese Whiterspoon. E ainda bate aquela sensação de que vamos renovar promessas automaticamente, como se fôssemos o Paulo Maluf de nós mesmos.

Mas avaliando com calma, revendo as tabelas e batendo os diferentes índices é possível um entusiasmo quase lulista. Por isso, em edição inédita do “Crônica das 12”, vamos dar nomes aos bois, os melhores de 2010:

Dio, Evelyn, Denis, Grazi, Coru, Karina, e Fê – foi um ano de almocinhos das mais variadas cozinhas e dos melhores bate-papos de computação à dinâmica familiar, de RPG ao mais novo filme em cartaz.  Precisamos manter a ideia na pauta de 2011. Nesse ano a turma cresceu com a chegada da Grazi, o melhor reforço ao grupo em anos. E que o deus que combina as agendas nos abençoe.

Aline Macário e Macarrão – ela é meu avatar em Americana (SP)! Vale qualquer viagem para revê-los.

Reinaldo – obrigada por esse blog – afinal o dele (confiram a Claquete encabeçando a lista ao lado) me inspirou a começar esse projeto -, por alimentar o meu gosto pela sétima arte e pelos pitacos sempre precisos aos meus textos, dos quais serei eternamente dependente.

Maysinha – a melhor editora do mundo, muito obrigada pelas dicas, pelo carinho e amizade.

Carpinejar e Marcelino Freyre – escrever é preciso e é muito mais gostoso com as dicas de vocês. São dois escritores fodásticos, que quem não conhece precisa parar tudo e ler. Bem-humorados, generosos e, por vezes, ferinos na medida, enfim, o melhor da literatura brasileira now.

Flavinho, Ju Dondo, Leo, Talitinha, Carols, Lia... – trabalhar com vocês faz o meu dia mais feliz, parece clichê, mas é verdade. E me justifico lembrando que o clichê já foi uma ótima ideia, tão boa que passou a ser reproduzida em massa.

Paola – amiga que sempre me oferece um ano de pleno de aventuras jornalísticas e que está sempre presente, por telefone, e-mail e até pessoalmente.

Dri Yazbek, Emerson, Antonietta, João, Mário... – turma que provou que é possível fazer um ano diferente sim, a despeito da repetição do slogan por uma emissora de tv, apenas se deixando levar pela vontade de se contar uma boa história.

Queridos leitores Gente que eu fui conhecendo e me conhecendo aos poucos nesses meses, obrigada mesmo. Vocês humanizam essa blogosfera e me dão gás para continuar.       
  
Se alguém não entrou nominalmente na premiação, vai ver está camuflado em algum dos textos, confira e depois me diga.

E cuidado com o que desejam porque espero que todos os seus pedidos se tornem realidade em 2011.

domingo, 24 de outubro de 2010

Aposta

Depois daquele pé na bunda, só lhe restava ir à lotérica. A vendedora sugeriu um dos bolões da mega-sena. Cotas a R$ 10 e R$ 30. Comprou uma de cada. Olhou na bancada e resolver tentar tudo: lotomania, timemania, dupla sena, federal, loteca... Não tinha cabeça para pensar em tantos números e combinações, deixou que a máquina fizesse a sua sorte.

Ela apenas achava justo que algo desse certo. E, certamente, preferia sua parte em dinheiro. Não precisava ser muito. Qualquer R$ 5 mil já resolvia. Mas Deus poderia ser justo e lhe pagar os juros. Assim, por baixo, devia a soma devia girar entre uns R$ 7 ou R$ 8. Milhões.

O problema é que Deus era um caloteiro. Ele permitia que as pessoas colocassem as dívidas na conta dele, as menores, as maiores e nada de comparecer. Todo poderoso, o SPC e a polícia não o alcançam. Ou não se dão ao trabalho. Talvez Deus seja apenas um viciado na bajulação e quer só curtir.

Não sabia de ninguém a quem Ele tivesse pago o que fosse. Ele devia ser mais como uma máquina caça-níquel, umas luzes coloridas, muita gente tentando a sorte, perdendo seus tostões, e um desavisado ou um viciado que leva uma porcentagem da bolada.

Passou dias sem dar pelo frasco verde de xampu na prateleira do box. De manhã, colocava o primeiro sapato que via, o mesmo que tinha tirado antes de deitar. Nem queria saber o que podia ter naquela sola. Comeu miojo com ovo no jantar por uma semana. Não acreditaria que tinha feito nada daquilo se lhe contassem anos depois.

Nice foi fazer a faxina do apartamento. O acordo é que viesse uma vez ao mês, limpasse os vidros, os azulejos e passasse as camisas do André. Encontrou na mesa, sob pilhas de envelopes, folhetos de comida e revistas, os recibos dos jogos. Prendeu-os com um imã na geladeira para que a patroa os visse assim que entrasse.

À noite, quando chegou, se surpreendeu mais com a honestidade da Nice do que com seu próprio esquecimento dos jogos. No computador, conferiu um por um. Nada. Três pontos em um. Um ponto onde não devia marcar nenhum, ou fazer vinte. É o que dizem: a casa sempre vence.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dia de estar mais bonita


Segunda-feira, Alessandra desperta como sempre às 5h. Pega da poltrona a roupa já escolhida. A blusinha florida é o anticlímax da produção, cujo ponto forte será a calça que promete levantar o bumbum. Tinha que impressionar, não o chefe, ou os colegas, mas um cliente.

Era um cara que aparecia todos os dias. Pedia pizza portuguesa, coca-cola e um maço de cigarros na saída. Ou um x-tudo e uma sobremesa. A caixinha de Alê era o “obrigado” com sorriso que ele lhe deixava todo dia ao fim do almoço.

No banheiro, os potes de creme aguardavam a chamada. A máscara para cabelos. O esfoliante facial. A maquiagem e o protetor solar. Meia hora depois, a porta abriu-se e libertou a nuvem de vapor. Borrifadas de perfume importado – de terça pra frente um bom nacional daria conta. Por fim, os brincos e a pulseira.

Tudo isso porque era segunda-feira. Fazia dois dias que não o via. Saudade só contida porque tinha prazo. Curto. E por saber que a empresa dele, como aquela padaria, não emendava os feriados. Se sempre caprichava, segunda exigia mais. Sabe lá com quem ele esteve no sábado e domingo.

Ps. Embora eu discorde da explicação, há cientistas que garantem que as pessoas são mais bonitas na segunda. Veja aqui.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Será que vai chover?

Jennifer saiu para dançar na noite e encontrou Nuno. Eles ficaram acordados juntos até o DJ recolher seus discos e meses depois ele ainda não a procurou. Um amor platônico dali nasceu. 
Passado tanto tempo e calejada de tanto Lulu Santos nos ouvidos (“Eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia...”), ela decidiu libertar-se das expectativas e escolher que lugar ocuparia no mundo. Afinal, quem não tem dinheiro para terapia recebe a vendedora da Avon e encomenda batom e “Por que os homens amam as mulheres poderosas?”. 

Ela leu, grifou algumas passagens, tomou notas e decidiu. Mandou um recado por uma amiga, que poderia vê-lo ainda aquele dia. 

- Diga que perguntei por ele e gostaria de vê-lo de novo.

- Qualquer dia?

- Pode ser domingo.

“Jennifer? Que Jennifer?”, devia ser alguma amiga da Mari com quem ele tivesse saído algum dia. Quem quer que fosse, não foi importante. Ele poderia lhe dizer que seu sobrinho nasceu, depois seus pais vieram visitar o bebê e ficaram na casa dele e daí depois... Mas já tinha conversado com a testemunha de Jeová que o abordou no ônibus. Então confessou:

- Olha, Mari, a Jennifer, de novo, só num dia de chuva.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mil reais te dá asas


Ele pagou pela refeição na lanchonete da Augusta onde havia esticado o papo após o trabalho. R$ 18 bem investidos em um Beirute com rosbife, fritas e uma coca-cola seiscentos. Segundos depois, o celular acusou uma mensagem confirmando a compra – um sistema com algum objetivo ainda não identificado, ainda que pago, por ele. O problema era o saldo restante: sua conta acusava R$ 1.054,63C, quando deveria ter pouco mais de R$ 50. 

De onde veio tanto dinheiro? A pergunta quicava de um lado a outro, para cima e para baixo em sua cabeça. Tanto também não, mas ainda era dinheiro. Vai que alguém depositou por engano? Seu irmão lhe devolveu todo o dinheiro emprestado para pagar as contas no bar do seu Manoel? Não... O banco cometeu algum erro? Ele era um laranja e não sabia?  

Contar aos amigos seria mesmo muito idiota. “Cara, com certeza houve algum engano e você vai ter que devolver essa grana”, eles diriam. E ele não estava bem certo de que queria devolver. A conta estava no vermelho, o aniversário da namorada seria dali a dois dias e ela merecia algo, o carro precisava de conserto. Na ponta do lápis, era bem aquele dinheiro que faltava.

De volta no metrô, ele se espantava consigo mesmo. Sempre foi o cara que devolveu tudo o que encontrou, de canetas a guarda-chuvas. Nunca aprendeu a colar porque achava errado, daí tinha que estudar mais que todo mundo, inclusive aos sábados, domingos e feriados – o que foi motivo de piada durante toda a escola.  Queria fazer tudo certo porque acreditava nisso.  



Mil reais não era tanto, podia bem ficar com ele. Só desta vez, pôxa. Preparou-se então para seu primeiro ato de corrupção passiva. Foi ao banco. Decidiu checar o saldo, ver aquele número na tela azul novamente seria legal. Porém, a tela, talvez magoada com sua descrença, revelou outra verdade.  

Saldo: R$  54,63C
Limite do cheque especial: R$ 1.000,00C
Saldo disponível para movimentação:  R$ 1.054,63C

Não teria mais dinheiro todos os dias até o fim do mês. Sua ignorância digital, ou de quem tivesse criado o sistema de torpedos do banco, o liberou para sonhar como se tivesse ganho um prêmio que valesse nenhuma preocupação no bolso.  

sábado, 10 de abril de 2010

Futuro

Eles iriam se beijar? Ahhhhhhhhhhhhhh! SIM! O tarot disse que “SIM”. Muito bom! Quando? Bem, as cartas não mentem, mas têm mais o que fazer, não podem dar tantos detalhes: são muitos loucos para atender. E sim, de fato, eles se beijaram.

Vai dar certo? Ai, meu deus, vão se casar??? Já??? Os filhos seriam lindos, dois. Meninos. Talvez uma menina. Adotada. Letícia, talvez. Quando vão se ver de novo? Ai, as cartas não usam calendário.... A coisa ficava pior porque todo essa discussão era feita ali, de frente para uma tela pequena, com brilho próprio e sob uma música de realejo. Verdade! Tem o realejo virtual, você clica e o periquito tira sua sorte no amor e dá os número para jogar na loteria. Como pôde esquecer?

Não foi só ela quem esqueceu. O portal tirou do ar. Mas era tão divertido! Verdade que nunca o oráculo disse algo que se aproveitasse, mas esse era o espírito. Não poderia ser mais real!

Tirar a sorte ali no conforto do escritório, entre um orçamento e outro, era uma de uma liberdade absoluta. Mais ou menos. Havia a sempre o temor de que alguém visse que ela navegava, futuro adentro. Excitante.

Sente em um lugar silencioso. Mentalize sua dúvida. Seja claro, a mente confusa confunde as cartas. Clique quando estiver pronto. As cartas azuis, com versos em elaborados arabescos, dançam animadas na tela. Enfileiram-se obedientes e aguardam serem chamadas.

Demônio. São obras do demônio. Com sua malícia enganam os homens e os atiram direto no inferno. O inimigo não descansa. Vai na tua fraqueza e te leva com ele. O futuro a Deus pertence.

Demônios que sejam, vai ligar no dia seguinte? Não vai ligar. Ela não vai. Silêncio. E o beijo: ele gostou? Em outro portal dá pra fazer perguntas do tipo sim ou não. Jogar uma moeda pro alto dava na mesma. Não. Moedas se prestam a tudo. Cartas não mentem. O beijo dele foi bom. Mais que bom. Novo.

Vai ter outro???? Ai, tem que ter! “SIM”, o tarot cravou sim! Nossa, muitos bom! Podia ser nessa vida. O hoje, o agora, o quando, enfim não dava pra saber. As cartas não mentem, mas as cartomantes sim. Vai haver outro, um dia desses.
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