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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Senhora do destino


Esta semana matei um senador da República. Começar o ano exercitando o próprio poder dá uma sensação boa. Nem que seja o poder da palavra. Pois estava no bar, domingo à noite, a comentar que não havia tido nenhuma morte de figura importante na passagem do ano. E mal falei, o Zeca Camargo interrompeu seu discurso fantástico para comunicar a passagem de Eliseu Resende, eleito pelo Democratas de Minas Gerais.

Sei que ele foi alguém digno de nota, mas voltemos a falar de mim. Dias antes eu havia me recusado a desejar a morte de alguém justamente por ter medo de funcionar. Temia que fosse me tornar incontrolável, possuída pelo dom maligno. Começaria a enumerar quem deveria ser suprimido. Penso que haja alguns outros parlamentares que mereçam prioridade.

Vejo que o aluguel de um talento desses não pode ser desconsiderado sem uma cuidadosa análise comercial. Poderia atender assassinos profissionais, amantes dispensados, invejosos. Colocaria um cartaz em um poste na esquina da Ipiranga com a São João e outro na Ibirapuera com a Jurupis. E usaria um celular pré-pago para evitar qualquer imbróglio com as autoridades.

Também nesse aspecto seria um serviço com qualidade internacional para quebrar qualquer investigação científica: nada de rasto, digitais, testemunhas. Apenas deveria tomar cuidado para não ser vítima de eventuais despachos ou sessões de descarrego, não se deve esperar que a concorrência se perca sem protestos.

E não tem um efeito colateral. Um prócere da República se foi por minha culpa e eu dormi o sono dos pedreiros. Sonho sobre sonho numa narrativa ilógica. Construção de tanta solidez que bloqueou o som do despertador e me fez perder o trem.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Insônia da esquerda


Estou cansada demais para que meu cérebro articule tanta informação ou cogite abrir meu outro olho. É noite. Ouço vozes, tem um pouco de luz no quarto. A cama vazia ao meu lado. Desisto e durmo. Chico passou horas em claro de novo, sentado na beira da cama, vendo alguma reprise na tv. Irritado, mas sem querer me acordar.  

Pedi que fizesse acupuntura, mas ele tem medo de agulha. De acupuntura. Não quer tentar nem as sementes. Ofereci remédios, mas ele acha que nada que não tenha tarja preta funcione. Pensei que poderia ser a academia que ele faz à noite. Mas era culpa burguesa.

Tem uns pesquisadores da Universidade John F. Kennedy (EUA) que aferiram que pessoas da esquerda dormem menos, de forma pior e com sonhos bizarros de bônus, coisas como mortos-vivos e transas selvagens. Estava tudo explicado.

Eu poderia jurar que o Chico votava no Democratas desde bebê. Talvez vote mesmo mas, no fundo, queria votar na Dilma. Aqueles terninhos de gola chinesa que ela usou nos debates o seduziram. Socialismo de mercado. Crescimento asiático. Jamais teria saído com ele se soubesse desse lance esquerdista.

Todas aquelas discussões, ele tão enfático sobre a natureza criminosa do MST, a corrupção endêmica no governo federal, a falta de um verdadeiro capitão Nascimento para limpar as favelas, o voto de cabresto que é o Bolsa-família.

Minha família é de esquerda. Meu pai é metalúrgico. Votamos tantas vezes no Lula, que acabamos colocando ele lá. Dormi no ponto. No ponto, no ônibus, na cama. Durmo praticamente em qualquer lugar. Nada me faz perder o sono, na verdade. Eu sou de direita?

Geralmente, digo social-democrata. E não me venha com esse sorrisinho na cara. O que está em jogo aqui é que sou uma mulher que precisa e acredita na alternância de poder. Mas com os de direita, sonhando com a esquerda, não sei. Perco a fé no meu próprio governo.

Para quem quiser conferir a insônia da esquerda, clique aqui.
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