O texto está chocho. Vontade de rasgar a página. Não posso,
o computador ainda não me permite fazer isso. Já encontrei o personagem, uma
cigana obscura, sem dente de ouro. Que se recusa a ler mão de quem passa. É o
povo que a persegue para saber o futuro. E ela foge aos gritos de “te
esconjuro, Satanás”, sem sucesso.
Realmente, já vi plots
melhores. Até alguns de minha autoria, por sinal. Só que nem sempre consigo
reiniciar a história de outro jeito. Pelo menos não sem convocar um técnico.
No meu caso, os técnicos
são outros escritores. Só que na maioria das vezes não a galera que está
começando, gente já calejada da estrada. Não que os novatos não possam ajudar. É
que eles, como eu, às vezes sofrem de leitura adolescente. É assim: “legal”, “chato”,
“não está a altura dos seus outros textos”. Quando o que eu preciso é
identificar exatamente o que não está rolando: “é o personagem que está mal
caracterizado?”, “a trama é incoerente?”, “estou enchendo lingüiça?”, “e se eu
reescrever?”, “tem esperança pra isso, doutor?”.
Como ainda os escritores veteranos não pensaram em
capitalizar, abrindo uma consultoria para os novatos, só me resta abordagens
indiretas. Entrevistas, por exemplo. Já tive várias ideias para textos, tanto de
enredos quanto de remendos, vendo ou lendo matérias com o pessoal da ativa. Um dos contos
que mais curti escrever saiu após eu ver uma entrevista da Adriana Falcão, no
Entrelinhas.
Na mídia impressa, ninguém entrevista escritor. É só
resenha. Como se muitos leitores, não só aqueles que também escrevem, não
tivessem curiosidade de saber como eles trabalham, como foi que surgiu
determinado personagem, se ele comem, etc.
Na última semana, me caiu nas mãos “As entrevistas da Paris
Review”, revista americana especializada em literatura. Já saquei várias coisas
que faço de errado só de ler algumas delas. Além de ter notado que Hemingway,
um dos meus escritores favoritos, devia ser um entrevistado dos menos agradáveis
de se ter na pauta – se passou muitas vezes na fila do talento, não deve ter sobrado tempo pegar gentileza.
Agora que o Entrelinhas virou quadro do Metrópolis, também da tv
Cultura, passando lá pela meia-noite e uns trocados, aí é que eu não consigo
ver mesmo. O conteúdo fica disponível no internet, mas, não é a mesma coisa
sabe? As matérias são curtinhas, o assunto nunca se aprofunda. Acaba que mesmo
quem gosta, perde o tesão de ver. Tão nova eu e já viúva dos tempos de outrora.
Ps. Ainda está rolando o abaixo assinado contra o fim das Entrelinhas. Fiz até uma crônica a respeito, ok, outra crônica, rsrsr Tá lá no Vida a Sete Chaves.
Adoro seu blog, adoro seus textos..
ResponderExcluirFazia um tempo que não vinha por aqui!!
Bjok.
Pôxa, deixei passar esse recado! Um bilhão de desculpas, Déborah.
ResponderExcluirVenha sempre, moça - eu ando meio sumida, mas estou retomando aos poucos a produção por aqui ;)