Então, republico aqui crônica minha que saiu no Vida a Sete Chaves. Vamos iniciar uma fase "Vale a pena ver de novo" aqui no Crônicas das 12. Em breve textos novos por aqui também.
A minha sala de aula tinha pares de “Danielas”, “Julianas”, e
“Priscilas”, uma “Aparecida” e outra “Daniela Aparecida”. Em todas as
turmas do antigo quinto ano só tinha uma “Aline”. “Aline Viana”, então,
era único na escola. Exclusivo. Só sentia falta de um apelido, coisa que
as outras tinham. Anos depois, com a internet, meu nome tornou-se
cobiçado no mercado.
Daí fiz colégio, faculdade, abri contas de
e-mail. Alguma “Aline Viana” do mundo conseguiu o privilégio de
registrar-se antes de mim no Hotmail e no Gmail. Bati pé e inscrevi-me
sem adotar como codinome algum numeral ou apelido. Ficou algo simples e
elegante o bastante para divulgar nos milhões de currículos que enviei
ao longo da vida.
Mas agora as sombras têm reivindicado o que é
meu. Nome, e-mail, memórias e sanidade mental. E é um nome perfeitamente
quitado, segundo minha mãe.
Elas criam um e-mail bem parecido com
o meu. Daí distribuem por aí para quem não interessa, talvez. Como quem
troca um número na seqüência do telefone para despistar alguém. Ou
tentam me ganhar pelo cansaço.
Nessas já tive família em Recife.
Meu pai virtual me recomendava cursos de língua, meus tios enviavam
piadas. Apagava tudo sem ler. Imaginei que fossem notar que a outra
nunca respondia e checassem. Até que minha mãe de Pernambuco me cobrou
nos termos mais enfáticos por não visitar o tio Alfredo no hospital. Com
foto do paciente e tudo. Mamãe, preciso fazer uma revelação: a cegonha
trocou os e-mails.
Outro dia, foi um suposto irmão, com nome de
desembargador, que me procurou, querendo saber da recuperação do braço
quebrado. Respondi à genntileza: “irmãozinho querido, somos parentes
não. Procure aí o e-mail da maninha e sucesso”. O brother, em
sublime juridiquês, me chamou de ursupadora, queria saber quando abri
minha conta. Ora, faça-me o favor, além de desinformado ainda vem me
perguntar a minha idade! Eu vi primeiro e não tenho que contar nada.
Abri, é minha e não dou, não empresto e nem vendo, tá me entendendo?
O
último foi um hermano que diz ter me conhecido por essas veias abertas
do continente. Pedia o contato de um professor uruguaio porque queria
precisava encontrar algumas maria-joanas e contava que tinha me trazido
alguns alfajors lá da capital. Apesar da dor no coração, pelos doces que
amo, fui honesta. Não te conheço, amigo. Não tive professor uruguaio.
Podia ao menos mandar o alfajor, o ingrato.
Pra não dizer dos
vírus. Que enviados em meu nome, por alguma retardatária com menos
espírito esportivo, o sujou em algumas praças. Pois é, em algum lugar,
tem uma Aline Viana terrorista. Que queima o próprio nome. Essa deveria
arder no mármore do inferno.
Nem assim coloco o nome à disposição.
Não que ache que irá se valorizar mais, mas é que tem um valor afetivo,
sabe? Ganhei de mamãe.
Carta do editor - Não é o fim
Há 10 anos
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