O que leva alguém a dar dois laços no tênis e continuar com cadarço suficiente para pisar em cima? Pior é que os dois laços estão quase se desamarrando. Pior ainda é sair com um cara que passado dos trinta ainda não aprendeu a amarrar os cadarços. Pior é achar tudo isso super fofo, como eu.
Esse tênis é cinza escuro com detalhes cinza claro. A cor foi um rasgo de originalidade: ele tem um par preto e outro branco. No sábado, a pizza é de frango com catupiry e no domingo é daquelas congeladas, de mussarela, comida no café e no almoço em frente a algum jogo na tv.
No dia seguinte, ele acorda atrasado e ainda com as meias de dormir, com um rasgo grande no calcanhar do pé direito, calça os tênis empoeirados que passaram o final de semana jogados sob o sofá. Pacientemente ele dá um laço, depois outro para reforçar e ambos terminam assim meio despencados. Engole o Nescau, sai correndo mastigando o pão com manteiga para não perder a lotação. Mas antes, ele me lança um beijo de despedida da porta.
Podem dizer o que quiser, que ele nunca vai crescer, que nunca vai ter emprego que sustente uma família, que isso não é jeito de tratar uma mulher. Mas aquele beijo, solto no ar, seguido por aquele sorriso que ilumina seu rosto sempre sério, é toda benção que preciso nessa vida.
Carta do editor - Não é o fim
Há 9 anos
belo recorte. Gostei!
ResponderExcluirBjs
Demorei, mas respondo: obrigadão por passar por aqui! E por elogiar os textos sempre, rsrsrs
ResponderExcluirBeijos