terça-feira, 29 de setembro de 2015

A vaca do dia sou eu

Imagem: https://www.flickr.com/photos/petukhovanton/

Quinze minutos depois do tchau, percebi que fui absolutamente grossa com alguém. Alguém bacana, legal, que não tinha a menor ideia de porque eu estava sendo daquele jeito. Em minha defesa, se alguém interrompesse a cena naquele exato instante, eu também não saberia dizer. 
Quer dizer, o sujeito é um colega menos experiente e foi contratado, coisa que eu venho requerendo há um bom tempo naquela empresa. Sabe menos do que eu, em geral, e estava me explicando as mudanças mínimas que fariam diferença no meu expediente daquele dia.
Tá, tá, e a minha cabeça girando, por que ele e não eu que venho comendo grama amanhecida há tanto tempo. Porque, a minha mente responderia dez minutos depois, você estava em outra e não tem ideia de quando e porque isso foi definido. Não há culpados, só a vida que corre. 
Então, acontece que dessa vez eu fui a escrota com alguém. Tantas vezes alguém foi comigo e eu sempre avaliava que a pessoa devia estar com algum problema dela e eu virava saco de pancada apenas porque calhara de estar no lugar errado e na hora errada. Que a pessoa não era, necessariamente, uma escrota, poderia apenas estar sendo uma no momento.
Espero que, surja uma oportunidade de eu me desculpar com o sujeito. Mas perceber que eu fui uma escrota é melhor do que não ter percebido, do que passar a fazer as coisas no automático e adotar isso como modo de vida. Não significa que eu esteja me sentindo ótima e iluminada com esse insight, longe disso. Mas, pelo menos, resta a certeza de que não me perdi de todo.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Flora

Imagem: Green Legs - http://www.flickr.com/photos/nikoneric/

As pernas da mulher de calça laranja e sapatos roxos eram troncudas e verdes. Via-se pelos tornozelos. Ela subia os degraus de dois em dois. Corria. Livre. Não tinha mais raízes.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Café dos encontros

Imagem: Michele Molinari (http://www.flickr.com/photos/globevisions/)
Ornella possuía um pequeno livro de capa vermelha sobre seu próprio futuro. A obra fora escrita pela avó Dormélia, que além de prever toda a própria vida, antevira a da filha e a da neta.

A moça não se interessava pelo que aconteceria à mãe e à avó, apenas lia e relia a passagem que revelava que seu prometido a encontraria numa tarde qualquer no Café da Vila. Prometido por quem? Pela avó? Fosse por quem fosse, ela contribuía para o milagre rezando a previsão.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tão nova e já viúva


O texto está chocho. Vontade de rasgar a página. Não posso, o computador ainda não me permite fazer isso. Já encontrei o personagem, uma cigana obscura, sem dente de ouro. Que se recusa a ler mão de quem passa. É o povo que a persegue para saber o futuro. E ela foge aos gritos de “te esconjuro, Satanás”, sem sucesso.

Realmente, já vi plots melhores. Até alguns de minha autoria, por sinal. Só que nem sempre consigo reiniciar a história de outro jeito. Pelo menos não sem convocar um técnico.

 No meu caso, os técnicos são outros escritores. Só que na maioria das vezes não a galera que está começando, gente já calejada da estrada. Não que os novatos não possam ajudar. É que eles, como eu, às vezes sofrem de leitura adolescente. É assim: “legal”, “chato”, “não está a altura dos seus outros textos”. Quando o que eu preciso é identificar exatamente o que não está rolando: “é o personagem que está mal caracterizado?”, “a trama é incoerente?”, “estou enchendo lingüiça?”, “e se eu reescrever?”, “tem esperança pra isso, doutor?”.

Como ainda os escritores veteranos não pensaram em capitalizar, abrindo uma consultoria para os novatos, só me resta abordagens indiretas. Entrevistas, por exemplo. Já tive várias ideias para textos, tanto de enredos quanto de remendos, vendo ou lendo matérias com o pessoal da ativa. Um dos contos que mais curti escrever saiu após eu ver uma entrevista da Adriana Falcão, no Entrelinhas.

Na mídia impressa, ninguém entrevista escritor. É só resenha. Como se muitos leitores, não só aqueles que também escrevem, não tivessem curiosidade de saber como eles trabalham, como foi que surgiu determinado personagem, se ele comem, etc.

Na última semana, me caiu nas mãos “As entrevistas da Paris Review”, revista americana especializada em literatura. Já saquei várias coisas que faço de errado só de ler algumas delas. Além de ter notado que Hemingway, um dos meus escritores favoritos, devia ser um entrevistado dos menos agradáveis de se ter na pauta – se passou muitas vezes na fila do talento, não deve ter sobrado tempo pegar gentileza.

Agora que o Entrelinhas virou quadro do Metrópolis, também da tv Cultura, passando lá pela meia-noite e uns trocados, aí é que eu não consigo ver mesmo. O conteúdo fica disponível no internet, mas, não é a mesma coisa sabe? As matérias são curtinhas, o assunto nunca se aprofunda. Acaba que mesmo quem gosta, perde o tesão de ver. Tão nova eu e já viúva dos tempos de outrora.  


Ps. Ainda está rolando o abaixo assinado contra o fim das Entrelinhas. Fiz até uma crônica a respeito, ok, outra crônica, rsrsr Tá lá no Vida a Sete Chaves.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Get Smart



Você não tem o direito de me chamar assim.  Nunca teve.

O nome de uma mulher é uma coisa importante. Todos os seus nomes. Inclusive o de guerra.

Todas lutam uma. Ou várias. Talvez façamos parte de um serviço secreto.

Um codinome para cada missão. Para cada contato.

Errar o meu nome, aquele que lhe cabe, foi fatal. Ele era a senha do nosso caso.

Agora ele se autodestruirá em cinco, quatro, três, dois, um.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E é hora do Crônicas Retrô




Eu não me incomodaria de ter um ano novo meio parecido com esse que se vai. Sei que a maioria quer 2011 entre logo no bolso e que carregue tudo possível junto. Mas, apesar das turbulências econômicas, pessoais inclusive, eu aceitaria de boa uma outra rodada dos pontos fortes desse ano: os novos amigos (pessoal do B_arco, dos cursos da Terracota editora, etc.), as férias do meio de ano (dobradinha entre Paraty/RJ e o Ceará), eu ter tido coragem para voltar à facul, as aulas maravilhosas do querido Marcelino Freire e tanta coisa ... Fui meio ausente do “Crônicas das 12”, mas andei colaborando com o pessoal do “Vida daSete Chaves, e descobri, vejam só, que tenho fôlego para narrativas mais longas.

Em 2012 a ideia é dar uma repaginada no layout do blog – que sim, vai continuar muito azul, mas com mais destaque para as fotos – e criar um outro blog, este sobre livros, veremos. Bem, não prometo datas porque, e isso é outra descoberta de 2011, o importante é começar, mesmo que seja uma dieta uma semana antes do Natal, :P

 "Resoluções? Eu? O que você está sugerindo? Que eu preciso mudar?? Bem, amigo, no que me diz respeito, eu sou perfeito do jeito que eu estou!"

Assim, no apagar das luzes, pensei que seria bacana fazer uma retrospectiva dos meus melhores textos neste ano – pelo menos foram os que eu mais gostei de ter escrito. Quem não viu, veja agora no “Crônicas Retrô”. E claro, que seu ano seja abençoado e que você tenha força e saúde para conquistar o que 2012 tiver de melhor a oferecer.








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