sexta-feira, 30 de abril de 2010

Será que vai chover?

Jennifer saiu para dançar na noite e encontrou Nuno. Eles ficaram acordados juntos até o DJ recolher seus discos e meses depois ele ainda não a procurou. Um amor platônico dali nasceu. 
Passado tanto tempo e calejada de tanto Lulu Santos nos ouvidos (“Eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia...”), ela decidiu libertar-se das expectativas e escolher que lugar ocuparia no mundo. Afinal, quem não tem dinheiro para terapia recebe a vendedora da Avon e encomenda batom e “Por que os homens amam as mulheres poderosas?”. 

Ela leu, grifou algumas passagens, tomou notas e decidiu. Mandou um recado por uma amiga, que poderia vê-lo ainda aquele dia. 

- Diga que perguntei por ele e gostaria de vê-lo de novo.

- Qualquer dia?

- Pode ser domingo.

“Jennifer? Que Jennifer?”, devia ser alguma amiga da Mari com quem ele tivesse saído algum dia. Quem quer que fosse, não foi importante. Ele poderia lhe dizer que seu sobrinho nasceu, depois seus pais vieram visitar o bebê e ficaram na casa dele e daí depois... Mas já tinha conversado com a testemunha de Jeová que o abordou no ônibus. Então confessou:

- Olha, Mari, a Jennifer, de novo, só num dia de chuva.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mil reais te dá asas


Ele pagou pela refeição na lanchonete da Augusta onde havia esticado o papo após o trabalho. R$ 18 bem investidos em um Beirute com rosbife, fritas e uma coca-cola seiscentos. Segundos depois, o celular acusou uma mensagem confirmando a compra – um sistema com algum objetivo ainda não identificado, ainda que pago, por ele. O problema era o saldo restante: sua conta acusava R$ 1.054,63C, quando deveria ter pouco mais de R$ 50. 

De onde veio tanto dinheiro? A pergunta quicava de um lado a outro, para cima e para baixo em sua cabeça. Tanto também não, mas ainda era dinheiro. Vai que alguém depositou por engano? Seu irmão lhe devolveu todo o dinheiro emprestado para pagar as contas no bar do seu Manoel? Não... O banco cometeu algum erro? Ele era um laranja e não sabia?  

Contar aos amigos seria mesmo muito idiota. “Cara, com certeza houve algum engano e você vai ter que devolver essa grana”, eles diriam. E ele não estava bem certo de que queria devolver. A conta estava no vermelho, o aniversário da namorada seria dali a dois dias e ela merecia algo, o carro precisava de conserto. Na ponta do lápis, era bem aquele dinheiro que faltava.

De volta no metrô, ele se espantava consigo mesmo. Sempre foi o cara que devolveu tudo o que encontrou, de canetas a guarda-chuvas. Nunca aprendeu a colar porque achava errado, daí tinha que estudar mais que todo mundo, inclusive aos sábados, domingos e feriados – o que foi motivo de piada durante toda a escola.  Queria fazer tudo certo porque acreditava nisso.  



Mil reais não era tanto, podia bem ficar com ele. Só desta vez, pôxa. Preparou-se então para seu primeiro ato de corrupção passiva. Foi ao banco. Decidiu checar o saldo, ver aquele número na tela azul novamente seria legal. Porém, a tela, talvez magoada com sua descrença, revelou outra verdade.  

Saldo: R$  54,63C
Limite do cheque especial: R$ 1.000,00C
Saldo disponível para movimentação:  R$ 1.054,63C

Não teria mais dinheiro todos os dias até o fim do mês. Sua ignorância digital, ou de quem tivesse criado o sistema de torpedos do banco, o liberou para sonhar como se tivesse ganho um prêmio que valesse nenhuma preocupação no bolso.  

sábado, 10 de abril de 2010

Futuro

Eles iriam se beijar? Ahhhhhhhhhhhhhh! SIM! O tarot disse que “SIM”. Muito bom! Quando? Bem, as cartas não mentem, mas têm mais o que fazer, não podem dar tantos detalhes: são muitos loucos para atender. E sim, de fato, eles se beijaram.

Vai dar certo? Ai, meu deus, vão se casar??? Já??? Os filhos seriam lindos, dois. Meninos. Talvez uma menina. Adotada. Letícia, talvez. Quando vão se ver de novo? Ai, as cartas não usam calendário.... A coisa ficava pior porque todo essa discussão era feita ali, de frente para uma tela pequena, com brilho próprio e sob uma música de realejo. Verdade! Tem o realejo virtual, você clica e o periquito tira sua sorte no amor e dá os número para jogar na loteria. Como pôde esquecer?

Não foi só ela quem esqueceu. O portal tirou do ar. Mas era tão divertido! Verdade que nunca o oráculo disse algo que se aproveitasse, mas esse era o espírito. Não poderia ser mais real!

Tirar a sorte ali no conforto do escritório, entre um orçamento e outro, era uma de uma liberdade absoluta. Mais ou menos. Havia a sempre o temor de que alguém visse que ela navegava, futuro adentro. Excitante.

Sente em um lugar silencioso. Mentalize sua dúvida. Seja claro, a mente confusa confunde as cartas. Clique quando estiver pronto. As cartas azuis, com versos em elaborados arabescos, dançam animadas na tela. Enfileiram-se obedientes e aguardam serem chamadas.

Demônio. São obras do demônio. Com sua malícia enganam os homens e os atiram direto no inferno. O inimigo não descansa. Vai na tua fraqueza e te leva com ele. O futuro a Deus pertence.

Demônios que sejam, vai ligar no dia seguinte? Não vai ligar. Ela não vai. Silêncio. E o beijo: ele gostou? Em outro portal dá pra fazer perguntas do tipo sim ou não. Jogar uma moeda pro alto dava na mesma. Não. Moedas se prestam a tudo. Cartas não mentem. O beijo dele foi bom. Mais que bom. Novo.

Vai ter outro???? Ai, tem que ter! “SIM”, o tarot cravou sim! Nossa, muitos bom! Podia ser nessa vida. O hoje, o agora, o quando, enfim não dava pra saber. As cartas não mentem, mas as cartomantes sim. Vai haver outro, um dia desses.

sábado, 3 de abril de 2010

Bin Laden loves Brasil


Um segredo de Estado vazou da cúpula norte-americana. Sabe como é a CIA. O Bin Laden anda se inspirando no Brasil. Confira aqui em primeira mão trechos de uma reportagem de capa, ainda sem título, que sairá com o furo do ano em um importante veículo nacional nos próximos dias.

M.J., catador de papel de Washington, DC, que prefere manter sua identidade anônima, encontrou centenas de páginas de relatórios da CIA na lixeira, atrás do refeitório do complexo de inteligência. A princípio, o homem pensou em usar uma parte para forrar o chão do túnel onde costuma dormir e outra pra fazer uma fogueira contra o frio.

Uma noite de insônia levou-o a ler o material e assim descobrir o conteúdo dos relatórios, levou tudo ao jornal mais próximo. Porém, ele foi dispensado pelo Post porque, durante a checagem dos jornalistas, não foi possível estabelecer a autenticidade do material. A reação se repetiu nas redações dos principais jornais.

Desconfiado de que se tratava de uma conspiração contra a democracia americana, persistiu em sua busca por um repórter independente. Até que o relatório caiu nas mãos deste jornalista. Bin Laden acompanha atentamente tudo que acontece neste país, está confirmado. 

No relatório da CIA lê-se, por exemplo, que a inspiração para aquele rapaz pôr a bomba na cueca surgiu quando o terrorista mais procurado do mundo viu na internet que tinha político petista andando com dólar na roupa íntima. Levou algum tempo para convencer os irmãos da santidade do método, mas o quase sucesso da operação revelou a sabedoria do mestre. A informação foi confirmada por um alto araponga da Abin.

Desde aquele dólar na cueca, Laden não parou mais. Contratou um professor de português e nos últimos dias decidiu investigar a fundo nosso país, afinal se tem gente pondo dinheiro nas meias é sinal que a tecnologia nacional anda em franca evolução. 

De acordo com o relatório, é sabido que o terrorista mais procurado do mundo comprou o pay-per-view dos campeonatos paulista e brasileiro; além de analisar seriamente as estratégias adotadas nos morros pelos traficantes – os mais chegados a Laden afirmam que esse é o segredo para ele se manter incógnito no oriente médio. 

Membros do mais alto escalão da Al-Qaeda devem chegar a Brasília nos próximos dias para workshops de especialização. São aguardados por membros do GDF e no Congresso, nos gabinetes de Paulo Maluf, do deputado do castelo, Edmar Moreira, e José Sarney, este com o maior número de inscritos. Procurado, o governo federal declarou que se tratar de uma comissão de membros honorários do PMDB que vieram fazer turismo de negócios na cidade.

R. Silva / Brasília
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