sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O meu nome é próprio

Então, republico aqui crônica minha que saiu no Vida a Sete Chaves. Vamos iniciar uma fase "Vale a pena ver de novo" aqui no Crônicas das 12. Em breve textos novos por aqui também.

A minha sala de aula tinha pares de “Danielas”, “Julianas”, e “Priscilas”, uma “Aparecida” e outra “Daniela Aparecida”. Em todas as turmas do antigo quinto ano só tinha uma “Aline”. “Aline Viana”, então, era único na escola. Exclusivo. Só sentia falta de um apelido, coisa que as outras tinham. Anos depois, com a internet, meu nome tornou-se cobiçado no mercado.

Daí fiz colégio, faculdade, abri contas de e-mail. Alguma “Aline Viana” do mundo conseguiu o privilégio de registrar-se antes de mim no Hotmail e no Gmail. Bati pé e inscrevi-me sem adotar como codinome algum numeral ou apelido. Ficou algo simples e elegante o bastante para divulgar nos milhões de currículos que enviei ao longo da vida.

Mas agora as sombras têm reivindicado o que é meu. Nome, e-mail, memórias e sanidade mental. E é um nome perfeitamente quitado, segundo minha mãe.

Elas criam um e-mail bem parecido com o meu. Daí distribuem por aí para quem não interessa, talvez. Como quem troca um número na seqüência do telefone para despistar alguém. Ou tentam me ganhar pelo cansaço.

Nessas já tive família em Recife. Meu pai virtual me recomendava cursos de língua, meus tios enviavam piadas. Apagava tudo sem ler. Imaginei que fossem notar que a outra nunca respondia e checassem. Até que minha mãe de Pernambuco me cobrou nos termos mais enfáticos por não visitar o tio Alfredo no hospital. Com foto do paciente e tudo. Mamãe, preciso fazer uma revelação: a cegonha trocou os e-mails.

Outro dia, foi um suposto irmão, com nome de desembargador, que me procurou, querendo saber da recuperação do braço quebrado. Respondi à genntileza: “irmãozinho querido, somos parentes não. Procure aí o e-mail da maninha e sucesso”. O brother, em sublime juridiquês, me chamou de ursupadora, queria saber quando abri minha conta. Ora, faça-me o favor, além de desinformado ainda vem me perguntar a minha idade! Eu vi primeiro e não tenho que contar nada. Abri, é minha e não dou, não empresto e nem vendo, tá me entendendo?

O último foi um hermano que diz ter me conhecido por essas veias abertas do continente. Pedia o contato de um professor uruguaio porque queria precisava encontrar algumas maria-joanas e contava que tinha me trazido alguns alfajors lá da capital. Apesar da dor no coração, pelos doces que amo, fui honesta. Não te conheço, amigo. Não tive professor uruguaio. Podia ao menos mandar o alfajor, o ingrato.

Pra não dizer dos vírus. Que enviados em meu nome, por alguma retardatária com menos espírito esportivo, o sujou em algumas praças. Pois é, em algum lugar, tem uma Aline Viana terrorista. Que queima o próprio nome. Essa deveria arder no mármore do inferno.

Nem assim coloco o nome à disposição. Não que ache que irá se valorizar mais, mas é que tem um valor afetivo, sabe? Ganhei de mamãe.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...