quarta-feira, 21 de julho de 2010

Condenado no batismo


Olívia mantém um blog. Nele escreve cartas abertas. À mãe. Aos irmãos. Aos amigos e amores. Aqui republico uma que, de tão singular em sua franqueza, achei que merecia ser compartilhada. Nela, Olívia explica como o Gabriel se queimou com ela. Antes mesmo de saber articular qualquer palavra.


 “Oi, querido,

Tudo bom?

Você tem me ligado em casa e no celular, deixado recados no meu facebook ... E eu tenho agradecido sempre tanta gentileza. É tudo muito fofo, mesmo. Mas preciso lhe falar a verdade: não pode haver nada entre nós. 

Sei que você ainda não me propôs coisa alguma. Apenas tem me convidado para ir tomar uma cerveja, ou ao cinema, programas que eu poderia encarar como algo normal  entre amigos. Mas, eu estaria me fazendo de boba.

É que não posso ter nada com alguém com o seu nome. Tenho uma certa dificuldade com caras  com nomes iniciados com a letra “G”. Você seria o terceiro Gabriel na minha lista, então, não.

Meus piores traumas vieram de gente com nome dessa letra, acho que a vida poderia ter ficado só na tia Giselda, do primário, que me puxava os cabelos quando eu errava na tabuada. Mas, piorou de maneira exponencial com vocês, homens. 

Gilberto queria sexo sem nota. Cria do Serra que sou não dava para abrir mão da nota paulista. Guilherme não sabia beijar, não aprendeu nem com aula extra. Gustavo roubava minhas lingeries para vestir – descobri quando uma amiga me enviou as fotos ‘sensuais’  do perfil ‘b’ dele no facebook. 

Terminou tudo bem entre mim e o primeiro Gabriel. Achei que a maldição do G era coisa da minha cabeça ou que tinha enfim acabado. Até que ele me viu com o segundo Gabriel e o roubou na maior cara larga.  Então, posso lhe passar o telefone do casal de Gabriéis e assim poupamos tempo. 

É uma pena, se você se chamasse Bernardo, em vez de Gabriel, estaria tudo bem. O alfabeto é grande e não há ninguém com B na minha lista.

Sinto muito,

 Um abraço,
Olívia

Ps. Aviso que não vou mudar de idéia, desta vez nem Shakeaspeare me dobra, grande hipócrita! (“Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume” – William Shakespeare)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sintonia


A comunicação entre máquinas e homem anda cada vez mais fina. Achei que teria que esperar até os carros voadores serem realidade para poder achar graça nas promessas da tecnologia. Mas, não.  Estamos juntos, meu celular e eu, há quase quatro anos e ele pegou meu jeito. Até recusa as ligações que sabe que eu não gostaria atender.

Ele simplesmente não vibra com alguns chamados. Depois, todo sonso, manda um envelopinho assim: “ligação perdida de 11 555-5555” ou “cinco ligações perdidas de Felipe-Academia”. É melhor que muita secretária real por aí.

Por outro lado talvez ele tenha sentido o peso dos anos e resolvido se precaver, oferecendo-me um mimo especial. Ele já está bem velhinho, passou por muita coisa. Certa vez, mais depressivo, até pensou em suicídio, caindo escadaria da Lapa abaixo. E ele tem ficado meio desligado, às vezes, sabe?

Daí andei, discretamente, claro, procurando por um substituto. Igual quando a mãe da gente pensa em dispensar a empregada já aposentada e faz saber às amigas que precisa de alguém de confiança. Andei navegando à procura de um modelo bem moderno com tela com comandos que obedecem ao toque, rádio, bluetooth e, principalmente, memória de vários gigas.

Eu não queria fazer isso, de verdade. Mas vai que ele confunde o “Felipe-Academia” com o “Rodrigo-Raj-Caminho das Índias”? Tenho me sentido muito culpada com essa história toda. Como se traísse alguém da família. Mas não posso me arriscar tanto assim, e se o Rodrigo liga mesmo?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Amor à bola

Parem a copa. Eu já sei o que é escanteio. Gritei, ao mesmo tempo que os cronistas, que o segundo gol da Inglaterra contra Alemanha entrou bem uns 40 centímetros. Picareta! O goleiro fingiu que defendeu e repôs a bola em campo. Santa mãe do bandeirinha. Pois eu vi! Domingo, 11h da manhã. Eu que não entendia de futebol. Até você não ter outro assunto.

Também já sei o que é tiro de meta. Quem é o Özil. E o Higuaín. E que o Kaká está com o capeta. Pronto. Agora é minha vez, né?

Minha vez. Estou com a mão esticada há um tempão. Quero conversar contigo. Até de futebol. Ou você acha que aguentei tanto Galvão Bueno por esporte?

Mas aconteceu de novo. Eu já devia saber. É a sua jogada ensaiada. Primeiro foram os Beatles, que eu sempre achei que existiram para empatar o talento do John Lennon. Depois o curau de milho verde. E agora o futebol. Se confesso que é por você, lá no fundo tem algo sussurrando que não, que não é mais só você, que também sou eu. Um “nós” tremulando no ar.

Meus irmãos não me reconhecem. Minha mãe cantarola junto o “You say Yes, I say No” tocando no computador.  E eu torço, em silêncio, pela Alemanha. E pela volta da Libertadores.
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