tag:blogger.com,1999:blog-91164301033276658562024-03-12T18:05:41.209-07:00Crônicas das 12 badaladas|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.comBlogger59125tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-27556207509022614852015-09-29T07:30:00.000-07:002015-09-29T07:30:03.795-07:00A vaca do dia sou eu<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-1sjCkGXGQ0I/VgYSEEApbKI/AAAAAAAABUk/a7KWkPaHPEo/s1600/16824280347_9d9b71a419_z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/-1sjCkGXGQ0I/VgYSEEApbKI/AAAAAAAABUk/a7KWkPaHPEo/s400/16824280347_9d9b71a419_z.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem: https://www.flickr.com/photos/petukhovanton/</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quinze minutos depois do tchau, percebi que fui
absolutamente grossa com alguém. Alguém bacana, legal, que não tinha a menor
ideia de porque eu estava sendo daquele jeito. Em minha defesa, se alguém
interrompesse a cena naquele exato instante, eu também não saberia dizer. </div>
<div class="MsoNormal">
Quer dizer, o sujeito é um colega menos experiente e foi
contratado, coisa que eu venho requerendo há um bom tempo naquela empresa. Sabe
menos do que eu, em geral, e estava me explicando as mudanças mínimas que
fariam diferença no meu expediente daquele dia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tá, tá, e a minha cabeça girando, por que ele e não eu que
venho comendo grama amanhecida há tanto tempo. Porque, a minha mente
responderia dez minutos depois, você estava em outra e não tem ideia de quando e
porque isso foi definido. Não há culpados, só a vida que corre. </div>
<div class="MsoNormal">
Então, acontece que dessa vez eu fui a escrota com alguém. Tantas
vezes alguém foi comigo e eu sempre avaliava que a pessoa devia estar com algum
problema dela e eu virava saco de pancada apenas porque calhara de estar no
lugar errado e na hora errada. Que a pessoa não era, necessariamente, uma
escrota, poderia apenas estar sendo uma no momento.</div>
<div class="MsoNormal">
Espero que, surja uma oportunidade de eu me desculpar com o
sujeito. Mas perceber que eu fui uma escrota é melhor do que não ter percebido,
do que passar a fazer as coisas no automático e adotar isso como modo de vida. Não
significa que eu esteja me sentindo ótima e iluminada com esse insight, longe
disso. Mas, pelo menos, resta a certeza de que não me perdi de todo.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-60605685934927096842013-06-19T06:40:00.000-07:002013-06-19T06:40:49.329-07:00Flora<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-v7YI4l6M9o8/UcG0S-xqXnI/AAAAAAAAAbE/noJlwa8NIWU/s1600/green+legs+-+eric+chu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-v7YI4l6M9o8/UcG0S-xqXnI/AAAAAAAAAbE/noJlwa8NIWU/s400/green+legs+-+eric+chu.jpg" width="265" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem: Green Legs - <a href="http://www.flickr.com/photos/nikoneric/">http://www.flickr.com/photos/nikoneric/</a></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">As pernas da mulher de calça laranja e sapatos roxos eram troncudas e verdes. Via-se pelos tornozelos. Ela subia os degraus de dois em dois. Corria. Livre. Não tinha mais raízes.</span>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-35534648320909472142013-06-07T03:00:00.000-07:002013-06-07T03:00:11.388-07:00Café dos encontros<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-s3hKuFwVbUk/Ua9Di1Nmn7I/AAAAAAAAAaY/LUoSksdQjY0/s1600/domingo+por+la+tarde+micmol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="416" src="http://4.bp.blogspot.com/-s3hKuFwVbUk/Ua9Di1Nmn7I/AAAAAAAAAaY/LUoSksdQjY0/s640/domingo+por+la+tarde+micmol.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem: Michele Molinari (<a href="http://www.flickr.com/photos/globevisions/">http://www.flickr.com/photos/globevisions/</a>)</td></tr>
</tbody></table>
Ornella possuía um pequeno livro de capa vermelha sobre seu próprio futuro. A obra fora escrita pela avó Dormélia, que além de prever toda a própria vida, antevira a da filha e a da neta.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
A moça não se interessava pelo que aconteceria à mãe e à avó, apenas lia e relia a passagem que revelava que seu prometido a encontraria numa tarde qualquer no Café da Vila. Prometido por quem? Pela avó? Fosse por quem fosse, ela contribuía para o milagre rezando a previsão.<br />
<br /></div>
|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-74483072990840289422012-09-13T05:50:00.000-07:002012-09-13T11:46:43.209-07:00No arroz<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;">Seu nome gravado choveu sobre mim.</span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-owJ7TgJDrJo/UFHWMt6q6DI/AAAAAAAAAMw/g55t84UQ6ns/s1600/arroz-1-kikaantunes1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-owJ7TgJDrJo/UFHWMt6q6DI/AAAAAAAAAMw/g55t84UQ6ns/s320/arroz-1-kikaantunes1.jpg" width="213" /></a></div>
<br />|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-13910156252227544572012-04-13T13:04:00.000-07:002012-04-15T10:36:57.027-07:00Tão nova e já viúva<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-K2YH7jswlO4/T4iETOmrcUI/AAAAAAAAAKU/CdSGMqooL6s/s1600/m%C3%A1quina+de+escrever.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-K2YH7jswlO4/T4iETOmrcUI/AAAAAAAAAKU/CdSGMqooL6s/s400/m%C3%A1quina+de+escrever.jpg" title="Imagem: Daniela Goulart (http://www.flickr.com/photos/asleeponasunbeam/)" width="266" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
O texto está chocho. Vontade de rasgar a página. Não posso,
o computador ainda não me permite fazer isso. Já encontrei o personagem, uma
cigana obscura, sem dente de ouro. Que se recusa a ler mão de quem passa. É o
povo que a persegue para saber o futuro. E ela foge aos gritos de “te
esconjuro, Satanás”, sem sucesso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Realmente, já vi <i style="mso-bidi-font-style: normal;">plots</i>
melhores. Até alguns de minha autoria, por sinal. Só que nem sempre consigo
reiniciar a história de outro jeito. Pelo menos não sem convocar um técnico.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No meu caso, os técnicos
são outros escritores. Só que na maioria das vezes não a galera que está
começando, gente já calejada da estrada. Não que os novatos não possam ajudar. É
que eles, como eu, às vezes sofrem de leitura adolescente. É assim: “legal”, “chato”,
“não está a altura dos seus outros textos”. Quando o que eu preciso é
identificar exatamente o que não está rolando: “é o personagem que está mal
caracterizado?”, “a trama é incoerente?”, “estou enchendo lingüiça?”, “e se eu
reescrever?”, “tem esperança pra isso, doutor?”. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como ainda os escritores veteranos não pensaram em
capitalizar, abrindo uma consultoria para os novatos, só me resta abordagens
indiretas. Entrevistas, por exemplo. Já tive várias ideias para textos, tanto de
enredos quanto de remendos, vendo ou lendo matérias com o pessoal da ativa. Um dos contos
que mais curti escrever saiu após eu ver uma entrevista da Adriana Falcão, no
<a href="http://tvcultura.cmais.com.br/entrelinhas">Entrelinhas</a>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na mídia impressa, ninguém entrevista escritor. É só
resenha. Como se muitos leitores, não só aqueles que também escrevem, não
tivessem curiosidade de saber como eles trabalham, como foi que surgiu
determinado personagem, se ele comem, etc.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na última semana, me caiu nas mãos “As entrevistas da Paris
Review”, revista americana especializada em literatura. Já saquei várias coisas
que faço de errado só de ler algumas delas. Além de ter notado que Hemingway,
um dos meus escritores favoritos, devia ser um entrevistado dos menos agradáveis
de se ter na pauta – se passou muitas vezes na fila do talento, não deve ter sobrado tempo pegar gentileza.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora que o Entrelinhas virou quadro do <a href="http://tvcultura.cmais.com.br/metropolis">Metrópolis</a>, também da tv
Cultura, passando lá pela meia-noite e uns trocados, aí é que eu não consigo
ver mesmo. O conteúdo fica disponível no internet, mas, não é a mesma coisa
sabe? As matérias são curtinhas, o assunto nunca se aprofunda. Acaba que mesmo
quem gosta, perde o tesão de ver. Tão nova eu e já viúva dos tempos de outrora. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ps. Ainda está rolando o abaixo assinado contra o fim das Entrelinhas. Fiz até uma crônica a respeito, ok, outra crônica, rsrsr Tá lá no <a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/2012/03/13/o-amor-acabou/">Vida a Sete Chaves</a>.</i> </div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-31918653055775112352012-01-30T03:06:00.000-08:002012-01-30T03:10:28.614-08:00Get Smart<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-nR5Sk4JD1z4/TyZ5Cdeuu9I/AAAAAAAAAKM/DfA2ohDN9aQ/s1600/anne_hathaway_get+smart.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-nR5Sk4JD1z4/TyZ5Cdeuu9I/AAAAAAAAAKM/DfA2ohDN9aQ/s320/anne_hathaway_get+smart.jpg" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;" width="251" /></a></div><br />
<br />
<div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">Você não tem o direito de me chamar assim. Nunca teve.</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />
O nome de uma mulher é uma coisa importante. Todos os seus nomes. Inclusive o de guerra. </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />
Todas lutam uma. Ou várias. Talvez façamos parte de um serviço secreto. </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />
Um codinome para cada missão. Para cada contato.</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />
Errar o meu nome, aquele que lhe cabe, foi fatal. Ele era a senha do nosso caso. </div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">Agora ele se autodestruirá em cinco, quatro, três, dois, um.</div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-80522449128420954242011-12-30T06:57:00.000-08:002011-12-30T06:57:30.718-08:00E é hora do Crônicas Retrô<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-uhqFH0wq5GM/Tv3PqUwtNkI/AAAAAAAAAJ0/2YpKzgT3lKc/s1600/top-new-years-resolutions.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-uhqFH0wq5GM/Tv3PqUwtNkI/AAAAAAAAAJ0/2YpKzgT3lKc/s1600/top-new-years-resolutions.jpg" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Eu não me incomodaria de ter um ano novo meio parecido com esse que se vai. Sei que a maioria quer 2011 entre logo no bolso e que carregue tudo possível junto. Mas, apesar das turbulências econômicas, pessoais inclusive, eu aceitaria de boa uma outra rodada dos pontos fortes desse ano: os novos amigos (pessoal do B_arco, dos cursos da Terracota editora, etc.), as férias do meio de ano (dobradinha entre Paraty/RJ e o Ceará), eu ter tido coragem para voltar à facul, as aulas maravilhosas do querido Marcelino Freire e tanta coisa ... Fui meio ausente do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Crônicas das 12”</b>, mas andei colaborando com o pessoal do “<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/">Vida daSete Chaves</a>”</i>, e descobri, vejam só, que tenho fôlego para narrativas mais longas. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;">Em 2012 a ideia é dar uma repaginada no layout do blog – que sim, vai continuar muito azul, mas com mais destaque para as fotos – e criar um outro blog, este sobre livros, veremos. Bem, não prometo datas porque, e isso é outra descoberta de 2011, o importante é começar, mesmo que seja uma dieta uma semana antes do Natal, :P</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-iq2FQh1X8Y0/Tv3QV0PgrrI/AAAAAAAAAKA/EG6G2i4jtu8/s1600/calvin+resolu%25C3%25A7%25C3%25B5es+de+ano+novo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="http://1.bp.blogspot.com/-iq2FQh1X8Y0/Tv3QV0PgrrI/AAAAAAAAAKA/EG6G2i4jtu8/s320/calvin+resolu%25C3%25A7%25C3%25B5es+de+ano+novo.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"> <i>"Resoluções? <b>Eu?</b> O que você está sugerindo? Que eu preciso <b>mudar?? </b>Bem, amigo, no que <b>me</b> diz respeito, eu sou perfeito do jeito que eu <b>estou</b>!"</i></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;">Assim, no apagar das luzes, pensei que seria bacana fazer uma retrospectiva dos meus melhores textos neste ano – pelo menos foram os que eu mais gostei de ter escrito. Quem não viu, veja agora no “Crônicas Retrô”. E claro, que seu ano seja abençoado e que você tenha força e saúde para conquistar o que 2012 tiver de melhor a oferecer.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/2011/10/04/as-muito-feias-nao-perdoam/">As muito feias não perdoam</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/2011/11/01/a-long-way-home/">A long way home</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/2011/12/06/o-maniaco-dsa-virgulas/">O maníaco das vírgulas</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/2011/09/13/amor-cachorro/">Amor cachorro</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://cronicasdas12.blogspot.com/2011/05/ends-tonight.html">End’s tonight</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://cronicasdas12.blogspot.com/2011/05/eu-vi-aura-do-rio.html">Eu vi a aura do Rio</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://cronicasdas12.blogspot.com/2011/05/uma-noiva-para-gamal.html">Uma noiva para Gamal</a></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10.0pt;"><a href="http://cronicasdas12.blogspot.com/2011/05/primeira-confissao.html">A primeira confissão</a></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-60591455047521876612011-11-09T08:13:00.000-08:002011-11-09T08:13:33.032-08:00O meu bebê número 1<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
<i>Há pouco mais de uma semana a Terra recebia o habitante de número 7
bilhões. Outros milhares de bebês nasceram, mas uma menina das Filipinas,
Danica, foi quem recebeu a honraria. Enquanto isso, do outro lado mundo, na
minha oficina de escrita criativa, nascia o meu primeiro bebê. Um menino. Resolvi me conceder uns dias de resguardo, curtir os primeiros dias da criança
antes de vir contar aqui. </i></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<i>Metáforas a parte, nasceu sim o meu primeiro conto publicado
no jornal Conto. Quem me segue pelo blog, sabe que eu sou uma mulher da
crônica, mas até que dei conta do serviço. A publicação foi uma parceria entre
os alunos, com a coordenação do escritor Marcelino Freire. Confira a íntegra abaixo.</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ah, se você quer saber sobre os outros bebês, vale pegar uma
edição gratuita do jornal durante a <a href="http://baladaliteraria.zip.net/">Balada Literária</a>, evento que acontece em
São Paulo, de 16 e a 20 de novembro. Olhe, até mano Caetano Veloso irá comparecer </i>;)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: large;"><b>Bebê sob encomenda</b></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-oBhodcBx3zI/Trqi-ds02fI/AAAAAAAAAJo/FzMQR3zDyB4/s1600/beb%25C3%25AA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="342" src="http://3.bp.blogspot.com/-oBhodcBx3zI/Trqi-ds02fI/AAAAAAAAAJo/FzMQR3zDyB4/s400/beb%25C3%25AA.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Aline
Viana</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">-
“Alameda Jaú, 1.567, Jardins - São Paulo”. De quem é esse endereço, Judite?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">- É da
madrinha do Pedro Arthur, sim, senhora. Fiquei de mandar uma encomenda
importante pra ela. A senhora consegue achar o CEP aí no computador?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">-
Claro, minha filha. Já tá aqui ó: 01420-002. Agora volta pra casa, que deixar
criança sozinha, mesmo dormindo, é um perigo!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">- Já
vou então, dona Rafaela, muito agradecida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Judite
voltou pra casa a pé mesmo. Sabia que o filho ainda dormiria mais uma ou duas
horas porque havia acabado de mamar. Era só meia hora a pé, nem compensava
esperar o ônibus, que demorava uns vinte minutos pra passar e a deixava onde o
asfalto acabava. Dali ainda tinha chão até em casa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Judite
não sabia como fazer, mas ser mãe havia sido desse jeito o tempo todo. Arrumou
a trouxa do bebê, colocou os dois últimos pacotes de fralda por precaução,
roupinha de frio, lá não devia estar calor como naquele fim de mundo da Bahia,
coberta, os bichinhos que ele mais gostava, leite em pó, mamadeira. Devia pôr
tudo numa caixa ou numa mala? Melhor uma mochila. Precisava passar papel pardo
em volta? Por via das dúvidas, vestiu Pedro com um macacãozinho bege, de
ursinho. E seguiu para a agência dos Correios com o filho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">-
Quanto tempo leva pra um pacote chegar </span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">em São Paulo</span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">, moça?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">- Uns
dois dias, senhora. Se a senhora pagar um pouco mais, a gente garante que chega
amanhã de manhã.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Comprou
vários selos e espalhou por todo lado na mochila. Deu um último beijo </span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">em Pedro Arthur</span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> e o colocou com
cuidado no armário do malote. <br />
Ela não podia ficar com o menino, não agora que o Bento foi trabalhar em obra
no Recife com a biscate da Elaine. Um dia, quando chorava na igreja, depois da
missa, o padre Jonas veio conversar com ela. E falou de mulheres que não podiam
ter filhos, mas que aceitariam qualquer criança que Deus lhes enviasse. Pediu
para ela pensar com calma, que Deus falaria em oração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Primeiro
sentiu medo, depois raiva, e tristeza e tudo de novo. Fora de ordem. O filho
dela não era brinquedo, não podia dar assim pros outros. Queria saber quem era,
o que fazia, se era gente de bem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Tarsila
ligou um dia na casa da patroa, procurando por Judite. Foi a primeira vez que
alguém ligou no emprego procurando por ela. A mulher contou que havia
conseguido o número com o padre Jonas. Judite lhe deu o número do celular, que
ela podia atender depois do trabalho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Conversaram
várias vezes. A paulista lhe contou que não conseguia pegar barriga. Os médicos
não sabiam o porquê. Ia toda noite na igreja da Consolação pedir por um
milagre. Até que o padre de lá disse que a igreja podia ajudar. Se ela
aceitasse a criança de alguém podia dar-se um jeito. Dias depois, o padre Jonas
ligou e contou a história dela, Judite. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A
mulher lhe pareceu séria, mas Judite também quis falar com o marido. Era um
homem simples, que lhe passou confiança. Combinaram de só mandar o bebê depois
de seis meses, para ele poder mamar um pouquinho que fosse. Ela devia ligar
para avisar quando pudesse levar a criança. O casal combinou de pagar a
passagem de ônibus, já que ela não queria nem saber de entrar </span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">em avião. Faltava</span><span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> coragem para prolongar
a despedida por dois dias inteiros, num ônibus, pra depois voltar sem ele. Ia
mandar o menino pelos Correios. Eles sempre entregavam as contas no prazo, não
iam deixar nada acontecer ao filho dela.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> Os
Correios entraram em greve naquele mesmo dia. Ninguém ia avisar os clientes,
pra não tirar a força do movimento. Se a população tivesse prejuízo, ia cobrar
do governo uma solução junto com eles.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Marcos
recolheu as encomendas lá pelas nove da noite. Entre caixas e pacotes, deu com
o Pedro Arthur. No macacão, o endereço da dona Tarsila, colado com etiqueta no
peito, nas costas, na mochilinha. Não tinha nome do remetente. Até onde se
sabia não era proibido mandar crianças pelos Correios. Como o clima já era de
greve, os colegas decidiram em assembleia que era o Marcos quem levaria o bebê
para São Paulo. Ali não podiam deixar, não sabiam quem era a mãe, não dava pra
devolver. A encomenda estava paga. Ele ia junto com os outros pedidos marcados
como perecíveis, de trem, já que as entregas de avião continuariam suspensas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Ele
nunca tinha cuidado de bebê nenhum. Argumentou que não sabia trocar fralda. Uma
colega, que ganhara bebê há pouco, lhe ensinou como fazer, já deixando o Pedro
pronto para a viagem. Ensinou a dar de mamar, dar banho, por pra dormir. <br />
Quando deu por si,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>já alguém havia
buscado em sua casa uma sacola com as roupas pra <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>jornada. Avisaram a mãe que em duas semanas
ele estaria de volta e o chefe se comprometeu a visitá-la. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O trem
passou quase meia-noite. Marcos colocou a mochila de Pedro Arthur nas costas e
entrou no primeiro vagão do trem, logo atrás da cabine. Era o único que tinha
bancos, ainda que velhos, estofados em couro vermelho e mais ou menos confortáveis.
Os outros vagões eram para transporte de carga – os remédios, os alimentos e o
que mais o gerente da agência achou que devia ser enviado com urgência estavam
lá.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O
maquinista da noite contou que em mais de vinte anos de linha de ferro nunca viu
uma encomenda daquelas. Ele explicou que, em uma viagem perfeita, levariam
cinco dias para chegar. E isso porque a companhia abandonou o esquema de
transferências por ter cada vez menos cargas – os motoristas e os empresários
preferiam se arrebentar na estrada, lamentou. O menino, talvez tão assustado
quanto Marcos, puxou os cachos do cabelo do carteiro, que o usava comprido por
vaidade, lhe arrancando um grito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Logo na
primeira noite, a criança acordou várias vezes. Talvez estranhasse o sacolejo
do trem, a poeira que cobria o ar, ou simplesmente para protestar por ter se
sujado. Marcos acordava meio tonto, sem entender que a choradeira era com ele e
com isso despertava o motorista do dia, que precisava dormir até cedo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A
primeira parada foi no meio do nada, uma cidadezinha que era só vento e barro
vermelho. Eles iriam passar por mais mil outras pelo caminho antes de chegar. Homens
em mangas de camisa em busca de cartas e encomendas se aglomeravam na estação. Enquanto
o trem chegasse lá, pra eles não tinha greve. E saíam satisfeitos apenas
aqueles que pediram remédios.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os outros
continuavam sem notícias, sem pertences.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">No
intervalo de uma hora aprendeu a banhar a criança na pia do banheiro. No vagão
de passageiros, o banheiro estava entupido há anos. Queria ter conseguido
limpar pelo menos o principal como dizia a mãe, em código para suvaco, pinto e
bunda, mas com quem ficaria o menino? Não podia correr o risco de perder uma
entrega daquelas. Pelo menos conseguiu mijar. E molhar o cabelo e lavar o
rosto. Comprou duas garrafas de água para a criança. Para ele uma coca-cola e
três coxinhas bastavam. Beberia de novo quando o trem voltasse a parar. Se
enchesse a barriga d’água, não teria onde se aliviar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Deitou
o menino no banco, mas ele não quis dormir. Ameaçou chorar. Sentou a criança,
que a custo tentava se equilibrar. Lembrou dos bonecos e lhes deu. Na linguagem
lá dos bebês, Pedro Arthur agradeceu e chacoalhou o elefantinho azul, tirando
cada instante uma melodia diferente do brinquedo. Só pegou no sono quando o sol
caiu e o trem já parava em outra estação, ainda na Bahia. E foi aquele
dorme-acorda como da outra vez.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O trem
quebrou quase chegando a Belo Horizonte, ainda a dois dias de São Paulo. Sorte
que da véspera sobrou bolacha, um pouco de suco e toddynho para o menino. O
conserto chegaria em algumas horas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Alguma
bitola tinha estourado, ou era o carvão que estava verde, o maquinista não
sabia direito. Marcos esticou um tapete que havia achado atrás de um dos bancos
e colocou lá o Pedro com os brinquedos. O menino parecia não se incomodar com o
tempo parado, os mosquitos, o mormaço. Ria e ria ao ver o elefantinho cair ou a
bola rolar. Esticava as mãozinhas para que a bola voltasse sozinha e chorava se
ninguém a jogasse de volta pra ele. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O
mecânico chegou da capital numa picape. Mexeu por horas e no final da noite
conseguiu pôr a máquina soltando fumaça. Pelo menos o mecânico havia trazido um
pouco mais de comida, que dividiu com os três homens e a criança. Sem
geladeira, não adiantava guardar muito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Mais
dois dias se seguiram nessa toada até que o céu cinza e o cheiro de pneu
queimado estivesse por toda parte. Pedro já conseguia sentar sozinho e tentava
pegar os bonecos que ficavam longe. E fazia festa só de ver o Marcos. E dormia
a noite toda – coisa que da primeira vez até assustou o carteiro, que achou que
ele tivesse morrido.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">-
Parece que nem lembra de casa, refletiu o carteiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Dois
colegas foram buscá-los na estação da Luz. O mais alto, Marcelo, achou a
história toda tão da hora, que queria a todo custo levá-los na TV Cultura, que
ficava ali perto, para contarem pros repórteres. Iriam ficar famosos. A ideia
só podia vir mesmo de um moleque sem noção, um fura-greve, pensou o baiano.
Forçou-se a agradecer, mas disse que ele e o menino precisavam de um banho. De verdade,
com chuveiro e água quente. E comida e leite forte, que leite em pó não era
alimento pra criança. Encheram a van com as outras encomendas e foram para o
centro de triagem da rua Pamplona, perto da avenida Paulista. Foi um alívio
tomar banho completo, de chuveiro, de porta fechada, sem temer que alguém lhe
roubasse o bebê. Dormiu na casa do caseiro do prédio onde ficava a agência. O
menino no sofá e ele num colchão no chão. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">- Dona
Tarsila, tem um moço aqui na portaria dizendo que tem uma encomenda pra
senhora. Diz que a senhora mesma é quem tem que assinar lá.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">- Mas
eu não encomendei nada... </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 26.95pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Na
portaria, o Marcos com o filho dela nos braços. O menino gordinho, de
macacãozinho verde e touquinha listrada de golfinho, brincava com o cabelo do
carteiro. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-75580086765456259702011-10-31T12:47:00.000-07:002011-10-31T12:48:42.551-07:00Que se dane o que vão dizer<i>Essa crônica foi publicada originalmente no <a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/"><b>Vida a Sete Chaves</b></a>, mas resolvi compartilhar com os leitores do Crônicas também. Espero que se gostem!</i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-rMLXF7pkzFY/Tq760vtlW1I/AAAAAAAAAJg/r8McrVjsKjI/s1600/biografia-de-luan-santana1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="332" src="http://1.bp.blogspot.com/-rMLXF7pkzFY/Tq760vtlW1I/AAAAAAAAAJg/r8McrVjsKjI/s400/biografia-de-luan-santana1.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
Hospital público. Sabe como é, né doutor? Demora pra ter vaga.
Cheguei todo arrebentado e fiquei mais de dia na fila. Depois mais um
dia – ou foram dois? – na recepção aguardando minha vez. Estava tão
grogue de dor que agora num sei se foram um ou dois dias. E tinha um
bagulho de senha, tá ligado? Parecendo banco, moderno! Só que
modernidade pra hospital pro povo é só pra dar enrolar, cara. O número
não muda. E quando muda, não muda pro seu. Fiquei lá tanto tempo que até
consegui sentar!<br />
<br />
O que eu tinha? Levei um tiro de raspão e caí da moto lá no
Pelourinho. Tinha que entregar umas encomendas lá no Centro. Senti a
bala, desviei, mas ralei os braços, saiu osso pra tudo quanto era lado.
Mas lá no hospital, acharam que não era assim tão grave, não, e foram
passando gente na minha frente. Passando gente, modo de dizer, porque
nem foi tanto povo assim, senão a fila encurtava.<br />
<br />
De preto, minha cor original, já tinha parte ficando roxa. Se não era
gangrena, num sei o que foi. A enfermeira fez cara de espanto: Vixie,
meu Senhor do Bonfim, que esse homem tá apodrecendo! Os médicos
acorreram, me jogaram numa maca, levaram lá pra sala de cirurgia e quase
que foi sem anestesia, de tanta pressa deles. Pressa ou doideira? Era
madrugada, os negos vira as noites e embala os dias no plantão, num dá
pra saber. Tem uns que até são meus clientes.<br />
<br />
Daí que acordei, três dias depois. Num quarto com outro maluco. Tinha
ainda duas camas vazias, depois dizem que num tem vaga quando a gente
procura. O maluco passava os dias ouvindo Luan Santana. Tocava num
celular de merda, que ele deixava já direto na tomada pra não
descarregar. Olha o que fazem com o nosso dinheiro. “Amar não é
pecaaaaaaaaado/ e seu estiver erraaaaaado”… Aquilo martelava na minha
cabeça até dormindo.<br />
<br />
Seis dias eu agüentei, doutor.<br />
<br />
Nem pedi silêncio, seu delegado, só pra tocar outra coisa. Que aquilo
tava doendo mais que os pontos, que os remédios, que o estouro da moto.
Ele olhou nos meus olhos e cantou mais alto: “Eu tô
apaixonaaaaaaaaaaado/ Eu tô contando tudo/ E não tô nem ligando pro que
vão dizer… Que se dane o mundo”…<br />
<br />
Nessa hora me ferveu o sangue. Parti pra cima dele com a faca de
plástico mesmo. Pode acreditar, doutor. Com a raiva que eu tava, num
precisava de outra coisa. Agora, quero vê quem vai ser o doido de tocar
essas merdas pro meu lado.<br />
<br />|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-45674394883555298452011-10-24T09:50:00.000-07:002011-10-24T09:54:32.384-07:00#Vazoutema<h6 class="uiStreamMessage" data-ft="{"type":1}">
</h6>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-jTHueWQPWr4/TqWWE8ZJCcI/AAAAAAAAAJY/haR6AKEVmWE/s1600/mentira-de-crianca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-jTHueWQPWr4/TqWWE8ZJCcI/AAAAAAAAAJY/haR6AKEVmWE/s400/mentira-de-crianca.jpg" width="278" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">“Viver em rede no século 21:
os limites entre o público e o privado” foi o tema da redação deste ano do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A prova vale uma vaga na universidade
para milhões de estudantes em todo país. Devia também ser critério para
habilitar o Brasil a concorrer a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
Basta a gente pensar no quanto a inteligência governamental se empenhou para
evitar o vazamento da prova. Medidas como impedir que alunos usassem lápis e
caneta com corpo não transparente representam um avanço a ser compartilhado com
todas as nações. Se eu fosse uma vestibulanda de mais visão na minha época,
talvez minha nota tivesse subido significativamente com essas técnicas de
muquiar a cola dentro do miolo do lápis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">Todo esse esforço
governamental não foi páreo para a criatividade da nossa juventude. Que se não
teve acesso ao exame antes da hora – o assunto da redação vazou para um jornal carioca uma
hora antes do tempo mínimo para os alunos poderem deixar as salas – pelo menos
compartilhou via redes sociais o tema da prova. Alguns até, mártires, foram
descobertos tentando contrabandear a informação para a internet. Vai ver era
essa mesmo a ideia, discutir os limites entre a prova privada e a opinião
pública.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">No <i>Twitter</i>, a galera <a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=9116430103327665856" name="_GoBack"></a>começou a publicar depoimentos sob a sigla “<b>#vazoutema</b>”.
Alguns foram particularmente inspirados: “Uma questão social: como podemos
obrigar os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">funkeiros</i> a comprar fones
de ouvido?”, “Fim do mundo: seu país tem infraestrutura para receber o evento?
Justifique sua resposta”, ou “A história do Corinthians. Observação: não
precisa por título”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">Pense na loucura que foi
entre a arapongagem em Brasília. Ou no pobre coração do ministro, batendo em
descompasso, vendo sua candidatura à prefeitura paulistana naufragar diante do
escândalo em tempo real. Se preferir, pense, nas polícias Federal e Rodoviária
Federal, nos Correios, todo mundo
reunido com vontade de dizer “Não fui eu!”, mas com medo de ser o primeiro –
sabe como é, o culpado, sempre tenta se defender primeiro. Devem ter respirado
fundo quando um jornal divulgou o tema oficial. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial;">Tudo isso poderia ser
simplificado se o Enem mergulhasse fundo nos paradigmas da educação nacional. E
o que seria mais representativo das nossas raízes do que o clássico tema
“Minhas férias”? Seria digno. Todos os alunos deste Brasil já passaram por esse
tema. Pelo menos duas vezes por ano, inclusive. Já adquiriram todo o repertório
e as técnicas necessárias para fazer seu texto em prosa, verso, dissertação,
narração, carta, 140 caracteres, o que for. Desafio qualquer aluno
coreano, norte-americano ou japonês a fazer melhor.</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-9871176015038564712011-09-16T06:51:00.000-07:002011-09-16T06:51:15.583-07:00O meu nome é próprio<i>Então, republico aqui crônica minha que saiu no <a href="http://vidasetechaves.wordpress.com/">Vida a Sete Chaves</a>. Vamos iniciar uma fase "Vale a pena ver de novo" aqui no Crônicas das 12. Em breve textos novos por aqui também.</i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-3Vf0fVPY8Vc/Tm_Yk1awUrI/AAAAAAAAAJU/RxAnaRym71E/s1600/pezinho1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="425" src="http://4.bp.blogspot.com/-3Vf0fVPY8Vc/Tm_Yk1awUrI/AAAAAAAAAJU/RxAnaRym71E/s640/pezinho1.jpg" width="640" /></a></div>
A minha sala de aula tinha pares de “Danielas”, “Julianas”, e
“Priscilas”, uma “Aparecida” e outra “Daniela Aparecida”. Em todas as
turmas do antigo quinto ano só tinha uma “Aline”. “Aline Viana”, então,
era único na escola. Exclusivo. Só sentia falta de um apelido, coisa que
as outras tinham. Anos depois, com a internet, meu nome tornou-se
cobiçado no mercado.<br />
<br />
Daí fiz colégio, faculdade, abri contas de
e-mail. Alguma “Aline Viana” do mundo conseguiu o privilégio de
registrar-se antes de mim no Hotmail e no Gmail. Bati pé e inscrevi-me
sem adotar como codinome algum numeral ou apelido. Ficou algo simples e
elegante o bastante para divulgar nos milhões de currículos que enviei
ao longo da vida.<br />
<br />
Mas agora as sombras têm reivindicado o que é
meu. Nome, e-mail, memórias e sanidade mental. E é um nome perfeitamente
quitado, segundo minha mãe.<br />
<br />
Elas criam um e-mail bem parecido com
o meu. Daí distribuem por aí para quem não interessa, talvez. Como quem
troca um número na seqüência do telefone para despistar alguém. Ou
tentam me ganhar pelo cansaço.<br />
<br />
Nessas já tive família em Recife.
Meu pai virtual me recomendava cursos de língua, meus tios enviavam
piadas. Apagava tudo sem ler. Imaginei que fossem notar que a outra
nunca respondia e checassem. Até que minha mãe de Pernambuco me cobrou
nos termos mais enfáticos por não visitar o tio Alfredo no hospital. Com
foto do paciente e tudo. Mamãe, preciso fazer uma revelação: a cegonha
trocou os e-mails.<br />
<br />
Outro dia, foi um suposto irmão, com nome de
desembargador, que me procurou, querendo saber da recuperação do braço
quebrado. Respondi à genntileza: “irmãozinho querido, somos parentes
não. Procure aí o e-mail da maninha e sucesso”. O <i>brother,</i> em
sublime juridiquês, me chamou de ursupadora, queria saber quando abri
minha conta. Ora, faça-me o favor, além de desinformado ainda vem me
perguntar a minha idade! Eu vi primeiro e não tenho que contar nada.
Abri, é minha e não dou, não empresto e nem vendo, tá me entendendo?<br />
<br />
O
último foi um hermano que diz ter me conhecido por essas veias abertas
do continente. Pedia o contato de um professor uruguaio porque queria
precisava encontrar algumas maria-joanas e contava que tinha me trazido
alguns alfajors lá da capital. Apesar da dor no coração, pelos doces que
amo, fui honesta. Não te conheço, amigo. Não tive professor uruguaio.
Podia ao menos mandar o alfajor, o ingrato.<br />
<br />
Pra não dizer dos
vírus. Que enviados em meu nome, por alguma retardatária com menos
espírito esportivo, o sujou em algumas praças. Pois é, em algum lugar,
tem uma Aline Viana terrorista. Que queima o próprio nome. Essa deveria
arder no mármore do inferno.<br />
<br />
Nem assim coloco o nome à disposição.
Não que ache que irá se valorizar mais, mas é que tem um valor afetivo,
sabe? Ganhei de mamãe.|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-20560455071917151632011-08-15T12:14:00.000-07:002011-08-15T12:14:26.606-07:00Dos anjos de Deus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-3PUeXD5xbTk/Tklvsb_Q-yI/AAAAAAAAAJQ/aeTmZ458xNU/s1600/anjo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-3PUeXD5xbTk/Tklvsb_Q-yI/AAAAAAAAAJQ/aeTmZ458xNU/s320/anjo.jpg" width="313" /></a></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">O diabo passou por mim duas vezes nesses últimos dias e não me viu. Da primeira achei que estivesse distraído, mas da segunda ele passou bem do meu lado e foi como se eu não estivesse ali. Foi só aí que entendi: aquele cabeleireiro, que há exatos oitenta e nove dias tosou os meus fios pra me deixar com cara de rica, era um anjo disfarçado de pirata.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Pense em um Keith Richards paraguaio. Era o meu cabeleireiro. Vestia preto e usava uma bandana vermelha para cobrir a cabeça raspada . Só eu para não ver que um cabeleireiro careca é algo a se evitar. No mínimo, ele está naquele estado por culpa própria, se fosse bom, exibiria o próprio trabalho.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Também não sei bem que cara as ricas têm, quer dizer, ver coluna social nunca foi meu</span><span style="font-size: small;"> passatempo preferido. Mas, definitivamente, não era a cara que eu saí do salão.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Os fios retos deram lugar a fios de todos os tamanhos, desde que não superiores a 10 cm. Ganhei uma franja de mulher branca. Branca alemoa, ainda por cima. O cabelo crespo aguardava apenas uma gota d’água para se rebelar.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Culpa eu não tive, leitora que me acusa. Colocaram-me em uma cadeira cinco metros distante do espelho. Minha miopia tem crescido a taxas chinesas nos últimos anos. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Se praga de cliente pegar, aquele homem já não está mais entre nós. É uma pena, pois poderia ajudar outras pessoas, talvez menos descrentes do que eu.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Estava na livraria e por duas vezes trombei com o diabo, como lhes falei. Velho conhecido meu, talvez fosse cobrar ou inventar alguma dívida. Mas, ele não me viu. Comprou umas revistas de turismo e se foi. Pensando bem, acho que ele também precisava de um bom corte de cabelo.</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-80479416316847212172011-07-04T06:00:00.000-07:002011-07-04T12:58:56.237-07:00O hambúrguer e o paraíso<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-BC0B15LBu0w/ThEr8CCa9mI/AAAAAAAAAJM/A9loUzl5-tk/s1600/phone_a_vision4_1_marteka.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-BC0B15LBu0w/ThEr8CCa9mI/AAAAAAAAAJM/A9loUzl5-tk/s1600/phone_a_vision4_1_marteka.jpg" /></a></div><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Você sabe o que é um contrato verbal? E sabe quando tem que manter a sua palavra?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Acabei de me comprometer. É, a me casar com o John! Nós dois começamos a falar sobre encontrar a pessoa certa, se ela existe e tal. E daí eu quase pedi uma nova chance, sabe? É eu sei, você vai me perguntar se eu nunca me canso disso. Não sei o que me deu e propus que a gente casasse.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Não! Não agora. Só se a gente não encontrasse até ninguém até 2013, daí nos casamos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ....</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Faltam só dois anos e eu já deveria estar escolhendo a igreja, começando a pagar o buffet, vendo todos os vestidos da cidade, do país...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ....</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Mas agora dei pra pensar naquele indiano, sabe?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- Como que indiano?! Aquele que vinha sempre, mas só provou um hambúrguer pela primeira vez semana passada! Lembra, na sexta eu disse a ele que ninguém poderia vir a América, ir à uma lanchonete e não comer um hambúrguer? Daí ele disse que meu sorriso era como o paraíso, então eu valia o sacrifício. Acho que o nome dele era Gamal.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- ...</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">- E agora eu meio que comprometi com o John, mas o Gamal me deu o telefone dele. Dois anos é muito tempo, o John nunca vai saber. Vou ligar agora. Beijo, amiga!</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-8100751008360481272011-05-27T11:33:00.000-07:002011-05-27T11:50:10.036-07:00Eu vi a aura do Rio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-8aupY4wsjhw/Td_qexsi7dI/AAAAAAAAAJE/JA2gFYNFTHs/s1600/aterro_flamengo_normal.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="http://3.bp.blogspot.com/-8aupY4wsjhw/Td_qexsi7dI/AAAAAAAAAJE/JA2gFYNFTHs/s320/aterro_flamengo_normal.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal">Aquela calça com os fundilhos no joelho, que ainda é moda, nunca me enganou. Ô coisa ridícula. Olho para as pessoas e me pergunto se ninguém vai gritar que o rei está nu. Não grito, sou velha demais pro meu aviso colar. Mas sei que devo conceder o benefício da dúvida, vez ou outra, por isso me preparei e fui conhecer o Rio de Janeiro.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Como todo mundo neste país, tenho mais horas de Rio na memória do que qualquer outro lugar. Sabe aquele roteiro: Cristo, Lagoa, Ipanema, Sambódromo? De tanto que vi, gastou. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Outras centenas de arquivos ajudaram nisso: tiroteios na Linha Vermelha, na Linha Amarela, arrastão na orla de Copacabana e aquela lengalenga de chamar favela de comunidade.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Fui conhecer os monumentos históricos, o casarão real no Jardim Botânico, a casa da condessa de Barral, amante de Dom Pedro II, o Palácio do Catete, a Biblioteca Nacional. E a noite da Lapa. Queria me jogar. De asa delta, da Pedra Bonita. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Pense numa viagem de erros. Levei uma dezena de horas no trânsito pra chegar à terra prometida. O museu do Catete só abriria depois das duas da tarde – coisa pra desafiar a escassa paciência paulistana. Outros nem isso. O centro deserto, nenhuma loja aberta e nem era meio-dia quando chegamos naquele sábado. Entre as ruelas, os prédios antigos calados e, adiante, a Candelária em reformas. Só deu pra imaginar como tudo aquilo seria.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Daí cansei de ser turista. Sou brasileira, sou de casa. Fui à praia na Barra mesmo. Também fui ao Posto 9, em Ipanema, e vi camelôs trajados de árabes vendendo quibes e esfihas abertas. Sucesso. Vi, da Pedra do Arpoador, o sol se pôr. Mas gostei mais do Aterro do Flamengo: eles simplesmente fecham duas pistas de uma avenida imensa e emendam asfalto, parque e praia. Criançada brincando, gente jogando vôlei, pedalando, lendo à sombra, e até tomando banho de mar.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Comi feijão preto todo dia, graças à Ana. E jantei pão com presunto e queijo, autêntico de avó. E comida mexicana em um quiosque na praia, na Ilha do Governador. Ficou só faltando ir a um barzinho super bem cotado no festival Comida di Buteco, fechado em respeito à Sexta-Feira Santa. E conferi as relíquias de Bono e Madonna no Hollywood Cafe, que nem estava na minha programação, ao som de um rock de praia.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Vi o Rio dos meus amigos. Descobri um Rio família como uma cidade do interior, que jamais imaginei. As pessoas ali não sucumbem à metrópole. Como é, não sei, mas voltei meio carioca também. </div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-37188932190948792982011-05-20T12:12:00.000-07:002011-05-20T19:54:50.677-07:00End's tonight<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-v1jrP0TQfuQ/Tda8TeQpzcI/AAAAAAAAAI8/xpjkzbfhkJ8/s1600/soleceuazul.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-v1jrP0TQfuQ/Tda8TeQpzcI/AAAAAAAAAI8/xpjkzbfhkJ8/s320/soleceuazul.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="font-size: 11pt;">O ano passado bateu todos os recordes de casamento. Pelo menos na minha tabela: seis casais de amigos resolveram dizer o “sim”. Desconfiei, devia ser um sinal do fim dos tempos. A moça chamava o rapaz e disparava: “não vou pro juízo final solteira, meu amor!”. Fiquei sem entender, afinal os maias marcaram o evento, com bastante antecedência, para 21 de dezembro de 2012. Deu vontade de alertar os noivos e noivas vítimas de possível chantagem emocional: ainda restava uma janela de quase um ano a se aproveitar. Mas aí descobri que o fechamento do planeta foi antecipado pra amanhã. Isso mesmo, sábado, 21 de maio.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 11pt;">O anúncio foi feito por um movimento cristão norte-americano. Concordo com o leitor que lembrar que eles fazem esse anúncio quase todo o ano, mas, convenhamos, uma hora eles podem acertar e vai que é amanhã? A tal “Family Radio Worldwide” está empenhada em espalhar a notícia por todo mundo.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 11pt;">A expectativa da associação é que, neste sábado, os escolhidos ascendam aos céus e os renegados pela benção divina fiquem por aqui curtindo um período de tormento, até o fim dos tempos. O fim do mundo ter sido antecipado é bem típico de Deus, querendo prender todos os jornalistas na redação.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 11pt;">O mundo acaba, mas a imprensa segue: não vai ter jornal encalhado nas bancas. Todos, com depoimentos de mil especialistas, dirão como nos preparar para esse momento único da humanidade. Os portais de internet estarão à toda com a cobertura em tempo real, enquanto as rádios dirão as rotas menos congestionadas para tocar a mão direita de Deus.</span><br />
<br />
<span style="font-size: 11pt;">Pena que eu só soube hoje do fim do mundo. À noite já tenho compromisso: bar com os amigos. Gastarei, então, minha última noite na balada. Mas se tempo eu ainda tivesse, iria apelar à pessoa amada: “Vamos ficar só essa noite e depois vemos no que vai dar”. </span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-50664783851170114462011-05-16T10:02:00.000-07:002011-07-03T20:02:35.215-07:00Uma noiva para Gamal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-OdAGRacG4Gc/TdFcE7v-lXI/AAAAAAAAAIw/fipqdl1GkJ8/s1600/Loira+descon.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="261" src="http://2.bp.blogspot.com/-OdAGRacG4Gc/TdFcE7v-lXI/AAAAAAAAAIw/fipqdl1GkJ8/s320/Loira+descon.jpg" width="320" /></a></div><a href="http://1.bp.blogspot.com/-TUeGMAG-V74/TdFXwbO8UQI/AAAAAAAAAIs/odhQe8LnYwQ/s1600/mulher-indiana-de-belos-olhos-c5b72.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br />
</a><br />
<div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">A solteirice incomoda muito. Aos outros, principalmente. E estes, por sua vez, nos cutucam até tomarmos alguma atitude. Jamais aceitarão que a pessoa se acostume com este singular estado civil. Gamal foi vítima dessas boas intenções.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> – Não, não pode! Onde já se viu homem bonito, trabalhador e de boa família sem mulher? – Quem dava voz ao consciente coletivo era o cunhado de Gamal, que alimentava uma barriga de homem bem-casado.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">Com isso, mãe e irmãs se sentiam no direito de cobrar também. Não queriam um homem encalhado em casa. Nenhuma boa família da Índia permitiria isso. Se ficava sozinho, era porque tinha voltado ocidentalizado. Em língua corrente: viado. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">– Já que você fica tanto tempo na internet, por que não procura lá uma mulher? Em um site de relacionamento? No Facebook? Vi uma pesquisa na tv que dizia que são 48% maiores as chances de se encontrar alguém assim do que pessoalmente.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Mal não podia haver. E era melhor do que deixar o pai, até ali de fora da polêmica, procurar entre as boas famílias da Índia uma mulher para ele. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Boas mulheres sim, mas não pra ele Gamal, que veio sim um pouco ocidentalizado da América, onde fez faculdade. Mas não como temiam. Voltou querendo mulher loira, de peitão, original ou de silicone, não fazia preconceito.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Almoçava no escritório para poder ficar nas salas de bate-papo e nas redes sociais. Chegou até bloquear algumas candidatas mais afoitas. Sexo nos primeiros toques? Americanizada sim, mas sem perder a pureza. E não só de coração. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Demorou, mas encontrou. O Facebook tinha sido uma ótima ideia, iria agradecer ao cunhado. Temente à Shiva, loira e com peitão. A família estranhou um pouco os cabelos tingidos. A moça era de poucas palavras e nenhuma família, todos mortos em um acidente no Ganges. Anusha pagou o próprio dote. E a sogra achou um lucro ela saber fazer o tchai. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Na primeira noite de casados, não consumaram a união devido ao cansaço após tanta celebração. Depois ela disse estar menstruada, depois foi enxaqueca, depois passou a seduzi-lo com jantares sempre regados à bebida farta. Gamal logo cochilava e só iria fazer nova tentativa na noite seguinte, quando era novamente traído pelo desejo de comer.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">Quando a barriga de homem bem-casado apareceu, tornou-se o orgulho da família. Ninguém iria imaginar que passava fome de mulher. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">– Exija seus direitos de marido, Gamal! – Ouviu de um amigo quando um dia desabafou. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">Tentou, insistiu, mas Anusha escorregava sempre. Ou ele adormecia, ou vinha visita, ou ela estava naqueles dias, ou qualquer outra coisa. Ao cabo do terceiro mês, não a tinha visto toda nua. Só umas partes: o pé na sandália de tiras, o tornozelo quando a barra da saia levantava centímetro e meio ao subir a escada, os braços e o colo no decote. Era uma loucura para Gamal, que viveu tanto tempo sem dar por falta de mulher.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">O amigo confidente contou para o cunhado de Gamal, que consultou o sacerdote e este fez saber a outros homens e todos concordaram que aquilo não estava direito.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">Eles exigiram de Anusha uma explicação. Ela se fez de ofendida, não quis falar com ninguém e se trancou no quarto. Pressionaram. Gritavam que iriam arrancá-la de lá e obrigá-la a servir o marido de qualquer jeito. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;">Arrombaram a porta, mas Anusha conseguiu sair pela janela. Deitou a correr pelo bairro e toda gente atrás. Gamal, perdido no meio do povo, ia junto. Perdida ela também, acabou por encurralar a si própria em um beco. Até mulheres já faziam parte da turba agora. Uns batiam, outros tentavam arrancar-lhe as roupas. Mal se ouvia seus gritos sufocados de protesto. O marido temia pela esposa e já se acusava e se arrependia por aquilo tudo. </span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: left; text-indent: 27pt;"><span style="font-size: 10pt;"> Quase nua, estava visível qual era o problema da mulher: o volume na calcinha, o gogó se destacando, uns pelos muito grossos por todo o corpo. Era homem a Anusha. Não fosse a polícia chegar, ele viraria mulher na marra, de tanta pancada. Gamal é que não sabia mais o que era, onde estava. Fechou no mesmo dia o perfil do Facebook e fez as malas. Iria se jogar na América, garantiu. Queria agora de todo jeito a sua loira com peitão, dela ou de silicone, não fazia preconceito desde que fosse mulher, isso sim, original de fábrica.</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-37311527328552800862011-05-06T10:42:00.000-07:002011-05-06T10:42:11.381-07:00A primeira confissão<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-htRKvgMEgYs/TcQyNDgJOyI/AAAAAAAAAIg/EB32HQkKfew/s1600/sy-little-prayer.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-htRKvgMEgYs/TcQyNDgJOyI/AAAAAAAAAIg/EB32HQkKfew/s1600/sy-little-prayer.png" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">Que pecado contaria ao padre? – Marina se perguntou a tarde inteira e, já noite, ainda não sabia. A primeira comunhão era uma coisa complicada: primeiro tinha sido batizada, depois fez o cursinho e agora a confissão, o último desafio antes de receber a hóstia consagrada. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">A catequista disse para a turma contar a verdade na confissão com o padre Ercílio. Marina sabia que aquilo era um truque. Se dissesse a verdade, o padre daria o mesmo sorriso pequeno que o pai dela fazia antes de dar aqueles castigos realmente grandes e prepararia com capricho a penitência. O medo dela era ter que rezar até dar câimbra. E se ele a mandasse ajoelhar no feijão? </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">Nem o padre, nem a catequista e nem a mãe iriam acreditar nela. Dizer que não tinha pecado, onde já se viu? “Todo mundo tem pecado, quem não tem mente e isso é muito grave porque daí são dois pecados: a arrogância e a mentira”, a tia tinha falado no catecismo. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><span style="font-size: small;"> </span><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">O livro do curso estava aberto sobre a cama na página dos dez mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas, ok; não usar o nome de Deus em vão, também; guardar domingos e dias de festa, lógico que sim; honrar pai e mãe – ela obedecia porque senão já viu, né?; só levantava falso testemunho em caso de legítima defesa, como agora; cobiçava as coisas? Se não sabia o que era, não podia ser culpada. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">Pegou um banquinho e posicionou do lado da estante. Ainda teve que subir no móvel para conseguir alcançar o dicionário da avó. Cobiçar era querer algo que era dos outros, dizia lá. Mas só sentia isso um pouquinho, não passava do Natal, quando o pai lhe comprava os presentes. Roubar não fazia. O homem do saco leva criança que rouba pra trabalhar pra ele. Ou ia pra Febem, já tinha visto na tevê. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">O último pecado só podia ser coisa de adulto: castidade. Palavra que lembrava castiçal, coisa de vó, sabe? Se era algo parecido com castiçal, então, tinha a ver com vela e com fogo, e o pai a proibiu de mexer com fogo. Podia ter olhado de novo no dicionário, mas eram tantas folhas, as letras pequenininhas e ela estava tão cansada que dormiu antes mesmo de pensar em tudo isso. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">Sonhou que o padre confiscava seu diário. “Olha, Marina! Está tudo aqui! Não tem pecado, ora essa! Vá rezar vinte ave maria e trinta pai nosso, já! E que Deus te perdoe!”, dizia ele enorme para uma Marina encolhida atrás do terceiro banco da igreja. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">A menina acordou certa de que devia entregar ao padre todos os seus segredos. Com certeza foi Deus que lhe falou em sonhos, pelo menos a mãe e a catequista diziam que ele fazia isso toda hora em resposta às orações. <span> </span>Ela nem orou, mas como estava na maior atribulação achou que Ele, muito sábio, resolveu ajudar mesmo assim. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">A fila da confissão tinha todo mundo de todas as turmas do catecismo. A primeira a entrar foi a Débora, uma ruivinha, que saiu de lá rapidinho e chorando. Vai saber o quê ela tinha feito, pensava Marina. Desconfiou, lá no fundo, que ela também achava que não tinha pecado nenhum. Quando chegou a sua vez, sentou na cadeira à frente do padre – lá na igreja do Jardim Atalaia não tinha dessas coisas chiques de casinha pra confessar, era olho no olho, mesmo para as crianças – e falou, sem nem respirar: </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">- Padre, tá tudo aqui. O senhor lê rapidinho, por favor, e não conta nada pra minha mãe. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">Marina deu ao padre Ercílio a chave para abrir o diário lilás. Ele ficou olhando pra aquilo algum tempo, depois abriu, deu umas folhadas. A menina pensou que ele não conseguiria entender sua letra apertada. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">- Padre, a minha letra é feia mesmo, mas eu prometo não faltar mais na aula de caligrafia. Se quiser, eu leio pro senhor. </span></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Arial;">O padre agradeceu, mas continuou lendo em silêncio por mais alguns minutos. Depois fez uma cara que ela nunca viu nele e mandou Marina rezar três pai nosso e duas ave maria. Foi a menor penitência da turma.</span></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-5812122788982138802011-04-20T06:43:00.000-07:002011-04-20T06:43:12.812-07:00Três é demais<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-OdpKmOcbimM/Ta7hxcshKaI/AAAAAAAAAIc/jEiFxtaLg1w/s1600/trig%25C3%25AAmeas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-OdpKmOcbimM/Ta7hxcshKaI/AAAAAAAAAIc/jEiFxtaLg1w/s320/trig%25C3%25AAmeas.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Dois filhos eles queriam. Menino e menina ou dois de cada. Mas apenas dois. Foi o que disseram ao médico. Choro após choro soou na sala de cirurgia. Vozes distintas. Três. Eram os analgésicos, só podia ser, ela pensou.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Eram três bebês. Deus, eles só tinham dois nomes: Marcela e Isabella. Na verdade, quatro. Também pensaram em Marcus e Gabriel. Se viesse um de cada, olhariam bem para eles e tirariam a sorte no cara ou coroa.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Três meninas. Só podiam ficar com duas, Nina repetia para si mesma no quarto. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Pedro soube pelo médico, logo após o parto. Só conseguiu dizer:</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">- Nós só queríamos, queremos, dois filhos. Qual parte você não entendeu?</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">O marido foi pensar no carro em como dizer à Nina que não tinha mudado de ideia, ainda queria só dois filhos. Era o que cabia no apartamento, no orçamento, na vida deles. Planejamento familiar, ele acreditava nisso.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">No princípio poderiam ter sido os analgésicos, mas agora ela estava desperta. Três não eram duas. Ela pediu dois bebês ao médico que fez a inseminação. O marido poderia confirmar. A cigana havia previsto que iria encontrar um homem que gostasse de viajar, um homem confiável e fiel que seria sua rocha, com quem teria dois filhos. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Conheceram-se na festa de ex-colegas da faculdade. A festa foi acabando, a carona dela embriagou-se tanto que só restava passar a noite ali, no frio do salão. Ela desabou no sofá exausta e pegou um café para não apagar, ele puxou conversa. Estava com um amigo na mesma situação. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Descobriram que tinham ido aos mesmos shows, visto os mesmos filmes, adoravam suco de melancia, freqüentavam a mesma igreja, tinham vários amigos em comum. Eram quase a mesma pessoa.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">Assim que recebeu autorização, Pedro subiu ao quarto para visitar Nina. Foi verem-se para saber que tomaram a mesma decisão: continuavam querendo duas crianças. A vida não é promoção, onde pelo preço de duas se leva três. Avisaram ao doutor Felipe para preparar apenas duas delas para levarem.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;">O médico também não quis saber de promoção. Encaminhou as três meninas ao conselho tutelar. Aos pais, disse para procurar o Procon.<i> </i></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 10pt;"><i>O texto foi baseado em uma notícia veiculada pelo portal iG sobre um casal que resolve colocar para adoção um de seus três bebês. Confira <a href="http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/pr/casal+tentou+abortar+uma+das+trigemeas+diz+juiz+do+parana/n1300038390176.html"><b>aqui</b></a></i> </span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-74709664093863721462011-04-08T11:24:00.000-07:002011-04-08T11:24:04.088-07:00Cuidado com as coisas fúteis<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Inferno astral não são os outros, meu bem. É o seu céu mesmo que pode andar meio virado, e isso bem antes do mês do aniversário e, pior, várias vezes ao ano. A fase dura entre três a dez dias e é mais ou menos como uma tpm fora de época. Eu não percebi na hora, mas o primeiro sinal dos maus dias foi esquecer meu chocolatinho da calma porque não ouvi o despertador tocar e precisei sair correndo para não perder o trem das 7h, isso numa véspera do feriado. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-hln1DM3NE_s/TZ9SlFUOmZI/AAAAAAAAAIY/mkQURosmdrE/s1600/relogio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="249" src="http://2.bp.blogspot.com/-hln1DM3NE_s/TZ9SlFUOmZI/AAAAAAAAAIY/mkQURosmdrE/s320/relogio.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">No site que dá as previsões – que não sei porque ainda leio, já que é sempre um tal de “não faça isso”, “não faça aquilo”, que mais parece a minha mãe do que astrologia – a orientação para o final de semana era para tomar “Cuidado com problemas de ordem fútil”. Nessa fase a pessoa meio que vira uma casquinha de ferida, implica com qualquer um por qualquer coisa.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Só que não é verdade, eu implico com o quê já implicava antes. A diferença é que tenho a impressão de que as pessoas fazem tudo de propósito para acabar com o meu humor. Se não lhe parece muito equilibrado da minha parte, tudo bem: sua opinião não é muito importante para mim neste momento. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Sábado foi o início do ciclo. Era minha primeira folga no hospital em dois meses. Sou enfermeira e posso garantir que não tem nenhum sex appeal nisso. Quem quer isso da vida, dê um F5 e vá ser bbb. Mulher fruta. Paniquete, sei lá. Sexo em hospital só rola na cabeça de adolescentes e de velhinhos já chegando no Alzheimer.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Não vou me alongar em divagações. Sábado, a faxineira faltou. Motivo: precisava ensaiar para um concurso de forró. Iria representar o pessoal do bairro, da igreja, sei lá. Não, não podia indicar ninguém, mas viria normalmente na semana que vem. A casa de pernas pro ar. O telefone toca, ainda são 8h30 da manhã. É a minha sogra avisando que vem pra cá. Seu Denis, de cama há meses, está de caso com a enfermeira da noite. Ela vai trazer as malas.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">O filho dela não sabe o quê fazer, mas se arruma rapidinho para não perder o futebol com a turma da firma. Não tem cama para ela dormir aqui. As pessoas deveriam encarar isso como um sinal, mas não. E lá vou eu comprar uma cama que não poderei enfiar em lugar nenhum.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Domingo. Ela já está aqui há 16h. Reclamou que o táxi do aeroporto não tinha ar condicionado. Que a vizinhança era feia. E que as bebidas alcoólicas da geladeira pareciam chá. Deveria ter explicado que era para, quando bêbada, não correr o risco de atirar alguma visita simpática pela janela. </span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">A cama nova só será entregue amanhã. O filhinho lhe ofereceu a nossa cama. Eu fiquei com o sofá. Ele tentou se ajeitar com umas cadeiras, ainda pôs umas almofadas. Não deu certo e acabou indo dormir no carro.<span> </span>Achei foi pouco.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Choveu o dia todo. Poderia esquecer do delivery porque motoboy não é anfíbio. A tv a cabo ficou fora do ar. Fomos ao cinema porque a janela começou a ficar convidativa demais. Mais de meia hora pra achar vaga no estacionamento. Os filmes todos já tinham começado. O jeito foi assistir à transmissão de uma ópera. A sogra aprovou. Eu e o Ricardinho ansiando por uma janela.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Mamãe liga à noite. Meu primo Maurício quer largar a mulher e voltar pra casa da vovó. Por isso havia tantas ligações perdidas da Sandrinha no meu celular. Tive que concordar com o padre da televisão: “as novelas estão acabando com a família”. Não vou retornar as ligações: seria muito chato eu dizer que o primo está coberto de razão. A Sandrinha é um encosto, todo mundo sabe. Ainda correria o risco de ele vir chorar no meu ombro. Soltei a tomada do telefone fixo. Eles que se explodam pra lá, na minha folga.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Segunda-feira, último dia de feriadão. O gerente da loja da cama liga e diz que não faz entrega aos feriados. Mas vender ele pode, o danadinho. Mandei a sogra ir lá comprar um guarda-roupa. Agora ele vai ver o que é promoção.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">O Ricardinho escorregou no futebol e torceu o pé. Mandou o Beto vir do campinho me chamar. Ele entrou todo cheio de lama apartamento adentro. O cara arfava como se correr 200m fosse alguma São Silvestre. Não consegui entender nada. Apenas chorar. Aquelas pegadas enormes, meu tapete branco, a sogra, a cama, o guarda-roupa, a chuva que continuava, minha folga.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Entreguei um gelol pro Beto. E dinheiro pro táxi. Que fosse para o hospital ou para qualquer outro lugar, tanto fazia. Coisas fúteis? Não, pessoas fúteis, por todo lado. Vontade de ir buscar lá no Jardim Ângela aquela faxineira biscate pra dar um jeito nisso aqui, mandar a sogra para um albergue pra ela reclamar, agora com razão, que sentiu até os paus da cama sob o colchão, vontade de ir para o hospital.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial;">Neste final de semana o plantão é do doutor Marcos. Podia usar aquela lingerie branca nova. A vendedora fez questão de dizer que era importada. Liguei pra Marcinha que topou trocar a folga, agora quem vai ser fútil sou eu.</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-44413967490053771692011-03-25T11:36:00.000-07:002011-03-25T11:36:28.648-07:00Confissão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh5.googleusercontent.com/-4ovbjTOPn6s/TYzVOGiUqsI/AAAAAAAAAIM/uYhtOJbrBLY/s1600/m%25C3%25B4nica.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">A terapeuta diz que minha implicância é ciúme, mas tenho o tempo a meu favor: sempre detestei meninas mimimi. Menina mimimi é aquela que é toda risadinha, que é uma delicadeza só, que criança não jogava bola pra não mostrar a calcinha, fica vermelha se ouve palavrão e é incapaz de pensar por si mesma. É uma fraude. E como faz sucesso.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh5.googleusercontent.com/-4ovbjTOPn6s/TYzVOGiUqsI/AAAAAAAAAIM/uYhtOJbrBLY/s1600/m%25C3%25B4nica.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://lh5.googleusercontent.com/-4ovbjTOPn6s/TYzVOGiUqsI/AAAAAAAAAIM/uYhtOJbrBLY/s1600/m%25C3%25B4nica.jpeg" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Chega até a me dar urticária. A última crise foi tamanha que até me submeti a um teste, desses de revista, para aferir o meu grau de feminilidade. A pontuação ia de zero a 300. Aqueles com perfil masculino deveriam marcar até 150. De 180 em diante, estavam as legítimas filhas de Eva. Soma daqui, revisa dali, meu resultado foi 155. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Veja que cento e cinqüenta e cinco não é código pra traveco. E se fosse, não creio que eu causasse maiores fenômenos. Diz o tal do teste que a zona cinzenta entre 151 e 179 indica quem tem a mente equilibrada entre os dois tipos de raciocínio, feminino e masculino. Ainda sob os efeitos da pressão mimimi, quase aceitei um tratamento de choque: pintaria meu quarto de rosa, iria trabalhar sempre de saia e saltinho, cortaria franjinha e passaria a ler Sidney Sheldon.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">A menção a Sheldon foi absolutamente técnica, como minha mente racional e quase absolutamente masculina exige. Lembro de ter visto na internet uma pesquisa que dizia que mulheres que lêem romances românticos batem de longe as que preferem outros tipos de leitura no quesito relacionamentos – a rivalidade, afinal, também consiste nisso. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Eu tentei. Fui lá na livraria e peguei um título qualquer com uma mocinha em um vestido de época na capa. A reação do meu organismo foi violenta: quase o deixei cair no chão. As páginas transbordavam – acho que só uma desintoxicação poderosa pra me livrar da má influência – de coisas como “crepúsculo”, “lágrimas que rolavam pelo rosto”, e “ela sorriu lentamente”. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Combater o mimimi é de família. Ainda criança, minha avó, pessoa da maior seriedade, interrompia a leitura do evangelho para me lembrar que “muito riso, pouco siso”. Não preciso tomar juízo graças a ela e, talvez por isso, sinto falta de autenticidade na mimimi. Tem uma frase do poeta Vladimir Maiakovski perfeita: “Amar não é aceitar tudo; aliás, onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor”. Gente que não peida e que não tem opinião, desculpa, mas, não tem vez comigo. </span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-74976834927895053212011-03-23T00:01:00.000-07:002011-03-23T05:45:16.936-07:00Selo de qualidade<div class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">A primeira vez a gente nunca esquece, já disse Washington Olivetto. Pois é, o “Crônicas das 12 badaladas” teve a honra de receber seu primeiro selo de qualidade do Reinaldo, da </span></b><a href="http://claquetecultural.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Claquete Cultural</span></b></a><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">. Quase tive um treco quando vi: foi muita emoção! rsrs</span></b></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh6.googleusercontent.com/-lQpNQJZzEhI/TYi5LtzrZQI/AAAAAAAAAIE/YIqWIJk1WAg/s1600/Selo+blog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://lh6.googleusercontent.com/-lQpNQJZzEhI/TYi5LtzrZQI/AAAAAAAAAIE/YIqWIJk1WAg/s1600/Selo+blog.jpg" /></a></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">O bacana é que, como membro da Academia, agora também posso nomear até 15 outros blogs para receber o prêmio. “And the Oscar goes to” (sempre quis dizer isso):</span></b></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><ul style="margin-top: 0cm;" type="disc"><li class="MsoNormal"><b><a href="http://deborahsimoes.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Alma de topless</span></b></a></b></li>
<li class="MsoNormal"><b><a href="http://desilusoesperdidas.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Desilusões Perdidas</span></b></a></b></li>
<li class="MsoNormal"><b><a href="http://adrianayazbek.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Literatura infantil</span></b></a></b></li>
<li class="MsoNormal"><b><a href="http://medzamatisse.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Mezdamatisse</span></b></a></b></li>
<li class="MsoNormal"><b><a href="http://observatoriodecomportamentos.blogspot.com/"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Observatório de comportamentos</span></b></a></b></li>
</ul><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Saciada a minha ansiedade de revelar os nomeados, agora seguem as respostas do questionário que acompanha o selo:</span></b></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Nome:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;"> Aline Viana da Cruz<br />
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">Uma música:</span></b> Times like these – Jack Johnson<br />
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">Humor:</span></b> depois que eu consigo ficar acordada, costuma ser bom</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Uma cor:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;"> azul<br />
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">Uma estação:</span></b> verão<br />
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">Como prefere viajar:</span></b> de carro ou de ônibus. Gosto de demorar um pouco pra chegar, e poder apreciar a paisagem no caminho<br />
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">Um seriado: </span></b><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-weight: normal;">Anos incríveis</span></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;">Frase ou palavra mais dita por mim:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 11pt;"> “Relaxa, vai dar certo”.</span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-59597865752230333092011-03-18T10:17:00.001-07:002011-03-25T10:56:08.706-07:00Pensa, que pensa<link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CAline%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List"></link><style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh5.googleusercontent.com/-JlKA3JvVl08/TYOTNbaganI/AAAAAAAAAIA/EuGf52HjQvw/s1600/tatoo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="201" src="https://lh5.googleusercontent.com/-JlKA3JvVl08/TYOTNbaganI/AAAAAAAAAIA/EuGf52HjQvw/s320/tatoo.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Era de tanto pensar que Maria perdia o amor. Pensou primeiro que não queria amar ninguém. Pensou depois que ele era velho demais. Só que um beijo, tudo bem. O beijo poderia ser melhor, não pode deixar de observar. Depois percebeu que ele guardou a carícia melhor mais pro final. Na noite seguinte pensou que vê-lo de novo seria o máximo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Mas pensou de novo que ele era muito velho. E que vestia umas calças jeans de vaqueiro que só por Deus. E que ele era diplomata. Antes achava que diplomata era um carro, seu pai tinha tido um. Não sabia que tinha gente diplomata. Explicava o terno bege, como o carro. Quem usa terno bege? Diplomatas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Isso foi na semana passada, já devia estar pensando em outra coisa. Vai ver era uma louca obcecada. Ela mesma reconhecia que sempre demorava pra esquecer. Primeiro foi André: quatro meses e dez dias juntos, para 18 meses de reflexões antes da próxima rodada, com 311 turnos. Parou de pensar porque cansou. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">No Mauro não pensou muito. Mas no Rogério pensou bastante. Em se livrar, depois em deixar rolar, namorar. Muito, muito mesmo, pensou quando romperam. Até gritar. Ou melhor, ele gritar. Pensamentos são energia, energia emite raios, raios queimam a gente. Queimadura dói e a gente grita. Pensaram mais devagar, por precaução. Voltaram. Até que pensou muito, em casar. Quis parar de pensar na mesma hora. Mas não parou. Só não pensava junto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Pensou em uma ou outra pessoa naquele tempo. Mente vazia é o laboratório do diabo, haviam lhe dito. Era o contrário. Pensar demais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Na cabeça de Maria não fazia silêncio. E não tinha pai, mãe, nem ninguém da polícia ou da prefeitura pra apelar. Pensava que não sabia inglês e que ele sabia também espanhol, alemão e chinês. Não tinha carro, também nem ele que vivia com chofer. Ele, estrangeiro, ela, sem passaporte. Seria madrasta de dois meninos dez e doze anos mais velhos que ela, com sotaque e malcriados.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Só daria certo se ela não pensasse tanto. Se a boca dele fizesse nela um imenso clarão. Desses que emudecem tudo ao redor. Em português, ela explicou à Bia: “Sabe, eles podiam chegar, me dar aquele arrocha e dizer ‘Cala a boca e me beija’. Não pode ser tão difícil”.<o:p></o:p></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-32094524801570233132011-03-11T09:58:00.000-08:002011-03-11T09:58:24.868-08:00Aos 50<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh4.googleusercontent.com/-h40vCHnf0gU/TXpiaOstXFI/AAAAAAAAAH8/1ih1rKPz6p8/s1600/Mulher+na+cama.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://lh4.googleusercontent.com/-h40vCHnf0gU/TXpiaOstXFI/AAAAAAAAAH8/1ih1rKPz6p8/s1600/Mulher+na+cama.jpg" /></a></div><link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CAline%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List"></link><style>
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<div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Toda mulher tem uma fase de diva. Só que diva brasileira é diferente: tem todo um glamour, mas ela se destaca mesmo é pela sinceridade. Luísa Brunet, Vera Fisher e até a caidinha Miriam Rios confessaram recentemente que estavam sem sexo há, no mínimo, dois anos e contando. Carmem só então se deu conta de quantas folhas do calendário haviam se passado desde aquela noite com André, ao mesmo tempo em que se viu parte de uma comunidade seletíssima: a das novas virgens.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Aquelas mulheres estiveram ali a sua vida toda, ou pelo menos, por toda sua vida adulta, sem nunca terem compartilhado com ela o que fosse. Nem ideias ou cor de cabelo. E eram da mesma geração, como Shakespeare e Gil Vicente. E acabava que ali, trinta anos passados, estivessem todas com a cama vazia. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Vazia como o mercado de homens. Guris de um lado, gays de outro. Vibradores ao lado do caixa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Da última vez com André, mal se lembrava. Recolheu suas coisas pela casa, passou o café e deixou uma nota breve – “chega”. Era um feriado prolongado qualquer. Lá fora, céu azulzinho, com sol fraco. Caminhou na praia, tomou sorvete, redecorou o apartamento.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Mudou de emprego, de corte de cabelo várias vezes, aprendeu alemão, conheceu Buenos Aires, fez drenagem linfática, passou a ir à academia. Acordava cedo, trabalhava até tarde, ia a festas de gente que não conhecia. Dormia sozinha. Nem se deu conta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Era uma mulher santa, quase uma monja, pensou consigo mesma. Não fazia sexo, não lembrava que tinha. Era diferente de todas as mulheres com quem convivia. Semelhante só às divas. Foi de espelhinho em punho e pose de contorcionista verificar: estava lá, do jeito que mamãe e papai haviam feito. <o:p></o:p></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-58769323109223663642011-01-04T00:21:00.000-08:002011-01-04T00:21:00.948-08:00Senhora do destino<link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CAline%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List"></link><style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_w-7mYlgX9gE/TSIGxxWwmwI/AAAAAAAAAH0/5Hq7iaG3PIo/s1600/Morte001.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/_w-7mYlgX9gE/TSIGxxWwmwI/AAAAAAAAAH0/5Hq7iaG3PIo/s1600/Morte001.gif" /></a></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Esta semana matei um senador da República. Começar o ano exercitando o próprio poder dá uma sensação boa. Nem que seja o poder da palavra. Pois estava no bar, domingo à noite, a comentar que não havia tido nenhuma morte de figura importante na passagem do ano. E mal falei, o Zeca Camargo interrompeu seu discurso fantástico para comunicar a passagem de Eliseu Resende, eleito pelo Democratas de Minas Gerais.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Sei que ele foi alguém digno de nota, mas voltemos a falar de mim. Dias antes eu havia me recusado a desejar a morte de alguém justamente por ter medo de funcionar. Temia que fosse me tornar incontrolável, possuída pelo dom maligno. Começaria a enumerar quem deveria ser suprimido. Penso que haja alguns outros parlamentares que mereçam prioridade.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Vejo que o aluguel de um talento desses não pode ser desconsiderado sem uma cuidadosa análise comercial. Poderia atender assassinos profissionais, amantes dispensados, invejosos. Colocaria um cartaz em um poste na esquina da Ipiranga com a São João e outro na Ibirapuera com a Jurupis. E usaria um celular pré-pago para evitar qualquer imbróglio com as autoridades.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Também nesse aspecto seria um serviço com qualidade internacional para quebrar qualquer investigação científica: nada de rasto, digitais, testemunhas. Apenas deveria tomar cuidado para não ser vítima de eventuais despachos ou sessões de descarrego, não se deve esperar que a concorrência se perca sem protestos.</span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E não tem um efeito colateral. Um prócere da República se foi por minha culpa e eu dormi o sono dos pedreiros. Sonho sobre sonho numa narrativa ilógica. Construção de tanta solidez que bloqueou o som do despertador e me fez perder o trem.</span></span><span style="text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9116430103327665856.post-62053351952609706532010-12-28T06:04:00.000-08:002010-12-28T06:10:13.343-08:00E é finito<link href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CAline%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml" rel="File-List"></link><style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_w-7mYlgX9gE/TRnt-xdxYzI/AAAAAAAAAHs/fKHg8CWYB78/s1600/Ano+novo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/_w-7mYlgX9gE/TRnt-xdxYzI/AAAAAAAAAHs/fKHg8CWYB78/s320/Ano+novo.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Fazer aniversário em dezembro não é para qualquer um. Andei dizendo muito isso e as pessoas não acreditam, mas é verdade. Balanço de final de ano somado à análise inevitável de que se está ficando mais velho e ainda não se está lá, aos quase trinta, requer estrutura reforçada, muito chocolate, sorvete e filme da Reese Whiterspoon. E ainda bate aquela sensação de que vamos renovar promessas automaticamente, como se fôssemos o Paulo Maluf de nós mesmos. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Mas avaliando com calma, revendo as tabelas e batendo os diferentes índices é possível um entusiasmo quase lulista. Por isso, em edição inédita do “Crônica das 12”, vamos dar nomes aos bois, os melhores de 2010:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Dio, Evelyn, Denis, Grazi, Coru, Karina, e Fê</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – foi um ano de almocinhos das mais variadas cozinhas e dos melhores bate-papos de computação à dinâmica familiar, de RPG ao mais novo filme em cartaz. Precisamos manter a ideia na pauta de 2011. Nesse ano a turma cresceu com a chegada da Grazi, o melhor reforço ao grupo em anos. E que o deus que combina as agendas nos abençoe.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Aline Macário e Macarrão</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – ela é meu avatar em Americana (SP)! Vale qualquer viagem para revê-los.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Reinaldo</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – obrigada por esse blog – afinal o dele (confiram a Claquete encabeçando a lista ao lado) me inspirou a começar esse projeto -, por alimentar o meu gosto pela sétima arte e pelos pitacos sempre precisos aos meus textos, dos quais serei eternamente dependente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Maysinha</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – a melhor editora do mundo, muito obrigada pelas dicas, pelo carinho e amizade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Carpinejar e Marcelino Freyre</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – escrever é preciso e é muito mais gostoso com as dicas de vocês. São dois escritores fodásticos, que quem não conhece precisa parar tudo e ler. Bem-humorados, generosos e, por vezes, ferinos na medida, enfim, o melhor da literatura brasileira <i>now</i>.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Flavinho, Ju Dondo, Leo, Talitinha, Carols, Lia...</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – trabalhar com vocês faz o meu dia mais feliz, parece clichê, mas é verdade. E me justifico lembrando que o clichê já foi uma ótima ideia, tão boa que passou a ser reproduzida em massa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Paola</span></u></b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> </span></u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">– amiga que sempre me oferece um ano de pleno de aventuras jornalísticas e que está sempre presente, por telefone, e-mail e até pessoalmente. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Dri Yazbek, Emerson, Antonietta, João, Mário...</span></u></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> – turma que provou que é possível fazer um ano diferente sim, a despeito da repetição do slogan por uma emissora de tv, apenas se deixando levar pela vontade de se contar uma boa história.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b><u><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Queridos leitores </span></u></b><b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">– </span></b><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Gente que eu fui conhecendo e me conhecendo aos poucos nesses meses, obrigada mesmo. Vocês humanizam essa blogosfera e me dão gás para continuar. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"> <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">Se alguém não entrou nominalmente na premiação, vai ver está camuflado em algum dos textos, confira e depois me diga. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;">E cuidado com o que desejam porque espero que todos os seus pedidos se tornem realidade em 2011.<o:p></o:p></span></div>|Blog da Alinehttp://www.blogger.com/profile/03522769494153399888noreply@blogger.com6