quarta-feira, 17 de março de 2010

Os 300 da M'Boi Mirim

São seis horas da manhã e já tem gente protestando em São Paulo. Só poderia ser periferia. Zona Sul. Fecharam a avenida, ninguém passa. As pessoas não podem chegar ao trabalho. Mas, não faz muita diferença. O problema para os manifestantes, e para as pessoas paradas no trânsito, é que eles levam cinco horas para ir de casa ao trabalho. E agora seus patrões querem que paguem por isso, além de na pele, no contracheque.

Impossível não se solidarizar com eles quando se está também preso no congestionamento. São mais de cinco horas da tarde quando o ônibus para em uma fila sem fim. Talvez um reflexo do protesto da manhã. O sol bate inclemente na janela do coletivo, uma senhora não para de gritar para a madrinha, no celular, que sim, está com saudades, que irá visitá-la assim que chegar em casa. Todos sentem sede, fome, cansaço, sono. Só escapa o cobrador, em papo animado com uma passageira. Às seis, não se andou mais que um quilômetro, ou um quilômetro e meio. A solução é descer e ir a pé mesmo.

Não basta encarar cinco horas de trânsito, em silêncio, para trabalhar todos os dias. Muita gente em pé. Tempo suficiente para se ir até São José do Rio Preto, ou quase chegar ao Rio de Janeiro. O patrão irá descontar o atraso, quando bem poderia demitir.




Demorou para que o trânsito paulistano levasse mais que carros às ruas. Os jornais apresentaram saldo de um ônibus com o vidro quebrado e uma pessoa atropelada, com ferimentos leves, isto, vale lembrar, com trezentos nas ruas pedindo condições dignas de ir ao trabalho. Fosse um tempo atrás, diriam que o Haiti é aqui.

Para a autoridade municipal, o momento é de fé e paciência. Duplicar a via não é uma possibilidade. Na verdade, não dá pra fazer nada agora, disse o prefeito. O jeito é esperar que o metrô fique pronto, se tudo der certo em 2011. Até lá, é meio salário pra todo mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...