quinta-feira, 11 de março de 2010

Interessante

Era tarde da noite e o casal se dirigia ao metrô. Haviam se conhecido em um bar, ele lhe oferecera um drinque, conversaram sobre literatura, autores favoritos, livros que marcaram cada um. O inusitado do papo causou nela uma impressão positiva. No caminho, porém, como num teste para a admissão em um emprego, ele perguntou: “Você é uma pessoa interessante?”.





Aquele homem era um bocado impertinente. E interessante. Ela poderia jurar que, em 25 anos, nunca lhe tinham feito esta pergunta. Claro que sim, oras! Inclusive mantinha um relacionamento passional cheio de idas e vindas com uma mulher madura.

Como ele ousava questionar se ela era interessante? Não a convidou para beber, não se ofereceu para sair? E se não fosse interessante, ele daria meia volta? Não havia bebido como de costume, então tinha certeza de que não se enganou quanto à pergunta.

Sua mãe lhe dizia, o tempo todo, que os homens estavam cada vez mais exigentes, mas aquela entrevista era um absurdo. “Vem cá, você tá brincando comigo, né?”, perguntou.

"Brincando? Por quê? Com uma mulher como você não se brinca” – ele respondeu.

Era demais! Como assim, ele falara a sério? E a revolução sexual, e a queima de sutiãs? E as presidentas ao redor do mundo todo? Ora se ela não era interessante!

“Como assim, se sou interessante? Acho minha opinião meio suspeita. Por que você não paga pra ver?", respondeu. Agora teria que fingir até isso, senhor! Não sabia mais se era interessante. Ele a desestabilizara, naquele instante ambos tiveram esta certeza.

Um comentário:

  1. Belo recorte de vícios que ainda pautam relações interpessoais que vemos por aí.

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