segunda-feira, 24 de outubro de 2011

#Vazoutema



“Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado” foi o tema da redação deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A prova vale uma vaga na universidade para milhões de estudantes em todo país. Devia também ser critério para habilitar o Brasil a concorrer a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Basta a gente pensar no quanto a inteligência governamental se empenhou para evitar o vazamento da prova. Medidas como impedir que alunos usassem lápis e caneta com corpo não transparente representam um avanço a ser compartilhado com todas as nações. Se eu fosse uma vestibulanda de mais visão na minha época, talvez minha nota tivesse subido significativamente com essas técnicas de muquiar a cola dentro do miolo do lápis.

Todo esse esforço governamental não foi páreo para a criatividade da nossa juventude. Que se não teve acesso ao exame antes da hora – o assunto da redação vazou para um jornal carioca uma hora antes do tempo mínimo para os alunos poderem deixar as salas – pelo menos compartilhou via redes sociais o tema da prova. Alguns até, mártires, foram descobertos tentando contrabandear a informação para a internet. Vai ver era essa mesmo a ideia, discutir os limites entre a prova privada e a opinião pública.

No Twitter, a galera começou a publicar depoimentos sob a sigla “#vazoutema”. Alguns foram particularmente inspirados: “Uma questão social: como podemos obrigar os funkeiros a comprar fones de ouvido?”, “Fim do mundo: seu país tem infraestrutura para receber o evento? Justifique sua resposta”, ou “A história do Corinthians. Observação: não precisa por título”.

Pense na loucura que foi entre a arapongagem em Brasília. Ou no pobre coração do ministro, batendo em descompasso, vendo sua candidatura à prefeitura paulistana naufragar diante do escândalo em tempo real. Se preferir, pense, nas polícias Federal e Rodoviária Federal, nos Correios,  todo mundo reunido com vontade de dizer “Não fui eu!”, mas com medo de ser o primeiro – sabe como é, o culpado, sempre tenta se defender primeiro. Devem ter respirado fundo quando um jornal divulgou o tema oficial. 

Tudo isso poderia ser simplificado se o Enem mergulhasse fundo nos paradigmas da educação nacional. E o que seria mais representativo das nossas raízes do que o clássico tema “Minhas férias”? Seria digno. Todos os alunos deste Brasil já passaram por esse tema. Pelo menos duas vezes por ano, inclusive. Já adquiriram todo o repertório e as técnicas necessárias para fazer seu texto em prosa, verso, dissertação, narração, carta, 140 caracteres, o que for. Desafio qualquer aluno coreano, norte-americano ou japonês a fazer melhor.

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