terça-feira, 5 de outubro de 2010

A visita do morto

Vindo, não sei de onde, pousou um pedaço de papel sobre o meu teclado. Nele o telefone de Rafaela, minha ex. Sogra. A letra era minha. Óbvio que era um sinal. Mas ninguém me contou.

Limpava a estante quando aconteceu. Desconfio que estivesse infiltrado entre os livros e cds velhos. Programado para dar seu rasante dois meses antes da aparição. 

Ele voltou. Solteiro. Disfarçava, puxando assunto. E eu que o dava por morto e que respeitava os espíritos, não os amolando por tão pouco. 

Não o matei. Foi ele que se matou sozinho. Senti raiva porque não tive culpa. E adoraria ter tido. 

Contei pra Carol, uma amiga, que me disse que o importante era saber o porquê de ele ter voltado. Não poderia me interessar menos. Mantenha uma distância cética, ela recomendou, mas descubra, senão ele encosta e não vai embora.  

Já vi muito filme de fantasma. É só ignorar ou virar amiga como no Harry Potter. E se não me disse quando estava vivo, depois de morto é que não me interessa. Se a notícia é fria, pode muito bem esperar eu chegar lá pra me dar a letra.  

Mas depois da conversa com a Carol, me senti na obrigação de lhe contar o tal porquê da visita. Perguntei. Ele disse estar perdido. Transitando entre um mundo e outro, um dia me viu na rua e me seguiu. Não queria incomodar, apenas saber como eu estava.  

Aposto que a Carol o classificaria como fantasminha camarada. Ainda não sei. Não sou muito dada ao perdão. Dizem que isso poderia libertar a alma dele, mas acho que isso ele deve desenrolar lá com Nosso Senhor. Senti um pouco de pena. Mas já faço muito de não chamar um exorcista. Que vá logo. O tempo urge e a fila do juízo final é grande.


4 comentários:

  1. Ele até que tem cara de bom moço, senti isso pelo que você contou... Deu vontade de saber o que ele vai fazer agora.
    Bjo

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  2. Deixemos então para o juízo final - ou algo que o valha. Somos tão imperfeitos como os fantasmas para julgá-los. O exorcismo, porém, não seria má ideia...

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  3. Concordo com a Maria Teresa,
    Esse post vai ter que virar um enredo...
    Como continua essa história?
    Ele continua a te deixar em paz, ou quer que vc o ajude nos dois mundos?

    Beijos

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  4. Maria Teresa - Bem vinda ao blog! Obrigada pelo recado. Então, você e Dan Patire me fizeram reavaliar o texto. Quem sabe não produzo mais sobre o meu morto? rsrsrs

    Evelyn - Oi, moça! Pois é, vamos ver o que rola com esse fantasma. Mantenha por perto o contato daquele seu amigo seminarista caso o exorcismo seja mesmo necessário, rsrsrs

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