sexta-feira, 11 de março de 2011

Aos 50


Toda mulher tem uma fase de diva. Só que diva brasileira é diferente: tem todo um glamour, mas ela se destaca mesmo é pela sinceridade. Luísa Brunet, Vera Fisher e até a caidinha Miriam Rios confessaram recentemente que estavam sem sexo há, no mínimo, dois anos e contando. Carmem só então se deu conta de quantas folhas do calendário haviam se passado desde aquela noite com André, ao mesmo tempo em que se viu parte de uma comunidade seletíssima: a das novas virgens.

Aquelas mulheres estiveram ali a sua vida toda, ou pelo menos, por toda sua vida adulta, sem nunca terem compartilhado com ela o que fosse.  Nem ideias ou cor de cabelo. E eram da mesma geração, como Shakespeare e Gil Vicente. E acabava que ali, trinta anos passados, estivessem todas com a cama vazia.

Vazia como o mercado de homens. Guris de um lado, gays de outro. Vibradores ao lado do caixa.

Da última vez com André, mal se lembrava. Recolheu suas coisas pela casa, passou o café e deixou uma nota breve – “chega”. Era um feriado prolongado qualquer. Lá fora, céu azulzinho, com sol fraco. Caminhou na praia, tomou sorvete, redecorou o apartamento.

Mudou de emprego, de corte de cabelo várias vezes, aprendeu alemão, conheceu Buenos Aires, fez drenagem linfática, passou a ir à academia. Acordava cedo, trabalhava até tarde, ia a festas de gente que não conhecia. Dormia sozinha. Nem se deu conta.

Era uma mulher santa, quase uma monja, pensou consigo mesma. Não fazia sexo, não lembrava que tinha.  Era diferente de todas as mulheres com quem convivia. Semelhante só às divas. Foi de espelhinho em punho e pose de contorcionista verificar: estava lá, do jeito que mamãe e papai haviam feito.

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