sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O caso da bola e do lustre




- Bola!
- É lustre.
- É bola.
- É lustre.
- Bola!
- Lustre.
- Bola!
A discussão entre a criança e a mulher já durava uns dez minutos nesse “é”, “não é”, quando eu, que tentava dormir no quarto ao lado, decidi intervir.  
- É bola, não vê que é bola, mãe?
Lucas sorriu quando me viu em sua defesa. Minha mãe alegou que só queria ver até onde ele iria com aquela discussão. Como onde? Até sempre. Em seus um ano e oito meses nunca o vi renegar uma ideia.
O lustre do quarto de dona Patrícia, minha mãe e avó do Lucas, é uma peça redonda de vidro trabalhado. Tem pequenos gomos, como uma bola de futebol estilizada. A luz é de um tom amarelo-avermelhado. Lucas, dono de bolas de tênis, de capotão, daquelas vendidas no posto de gasolina e sei lá mais quantas, sabia definitivamente o que era uma bola.
- É uma bola que brilha, Lucas, expliquei.
Ganhei o coração do garoto.
- Que brilha?
- Isso, uma bola que brilha.
Ele ainda ficou experimentando a palavra nova - “brilha” – por alguns minutos. Depois, satisfeito, foi brincar de olhar-se no espelho.
Desde que aprendeu a falar, Lucas tornou-se o meu guru. Cada descoberta sua me provoca. O lustre é uma bola que brilha. Como alguns sentimentos, de uma essência tão familiar, e revestidos de algo que seduz e cujo nome nos escapa. É uma bola, de fato, mas uma bola que brilha.

2 comentários:

  1. Adorei Aline!O ponto de vista da criança é sempre o mais importante, lógico que brilha! Sempre brilha! Bjão

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  2. Pôxa, Adri, que bom que você gostou!

    Bjs,
    Aline

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